estou estacionário na estação dos correios
a aguardar a vez de ser atendido
onde tudo parece cinzento e parado

excepto o painel que nos marca a vez
e aquela senhora vestida de preto
de quem o mais certo preciso e concreto
é só ver as cores do mundo que fez
através do olhar azul do seu neto

também há azuis no peito e nas pernas de vários clientes
esperando em vias de enviar mensagens
para longe daqui
naquelas paragens de outros compromissos
dinheiros
suspiros
porquês de sumiços
e alguma encomenda para além do mar

um outro remira a gravata às riscas
e as pernas ariscas de perna traçada
de uma que se mostra para não dar nas vistas
num canto escondida para melhor mostrada

um moço absorto à espera de vez
numa farda verde cor de estafetagens
tenteia com o dedo o fim do nariz
talvez magicando estranhas viagens
que partilharia com aquela jovem de corpete rosa
que é tão estrábica
mas é tão formosa
a olhar a vida de forma travessa
olhar que atravessa a sala de espera
à espera que o moço do olhar se aperceba
na sala cinzenta feita de esperar

onde finalmente me chegou a vez
na cinzenta voz que em sala parada
faz de todos nós bonecos de andar…

– Jorge Castro