(ando a sentir falta de alguma poesia de faca e garfo…)

serve-se o verso com rima se o repasto é mais que certo
ou verso branco se o assento se apoia em corrido banco
garfo na estrofe atrofia o paladar já desperto
que não há verso que aguente falta de sal no entretanto

se o poema é manifesto então o caso é mais sério
que não vai lá com cantigas ou ameno refrigério
só cantado à boca cheia se faz dele uma certeza
vinho tinto cor de sangue e cozido à portuguesa

já verso servido em prosa deve ter prato ladeiro
ou será sopa de letras muito fundo e pouco cheio
hino canção ou soneto laracha de chico-esperto
dar-se-á espaço à trova para que o som saia aberto

mas nunca é de servir frio um poema feito espada
de ferir fragas fantasmas fantasias de espingarda
quanto baste o quente e a alma quanto baste desalmada
que é de comer o poema que na nossa alma arda!

– Jorge Castro