Devo confessar que estou um pouco cansado de transmitir, ultimamente, apenas desgraceiras sobre o estado da nação, mas que fazer?…

Ainda ontem, sentado na sala de espera do estomatologista, tentei enganar essa espera, lendo uma daquelas revistas antigas que sempre nestes locais existem. Nem era muito antiga, a Visão, de Maio de 2005. E nela apurei os seguintes comentários sobre o tal estado da nação e as soluções preconizadas por brilhantes bestuntos:

Ludgero Marques – É preciso trabalhar mais e, na Função Pública, despedir pessoal;

Augusto Mateus – É preciso diminuir o pessoal na administração pública, em particular, e nas restantes empresas, em geral;

Medina Carreira – É preciso reduzir as prestações sociais e aumentar o IVA;

Miguel Cadilhe – É preciso acabar com o emprego vitalício

António Carrapatoso – É preciso aumentar a idade da reforma e diminuir os benefícios;

Miguel Beleza – É preciso congelar vencimentos;

Daniel Bessa – É preciso agravar a taxa do IVA…

Nem uma única medida revitalizante e energética. Apenas “afundamentos”! Amealhar mais para maior sangramento.

E é assim é que os ciosos guardadores do templo, profetas da desgraça e vestais veladas dos novos tempos, estudando as vísceras da economia mundial e outras horrendas alimárias da modernidade, se deitam a adivinhar o negro futuro dos outros, ao mesmo tempo que admitem para si próprios as mais celestiais prebendas e inevitáveis (leia-se intocáveis) benesses.

Nenhum deles cura de avaliar competências, eficácias e eficiências de tantos pseudo-gestores, seus pares ou primos mas, sobretudo, pagadores, que, politiquice após politiquice, negociata após negociata, apadrinhamento após apadrinhamento, conduziram e conduzem o “país real” à triste realidade em que vegetamos.

E a culpa é, segundo estes entendidos e bem pagos, sempre do mesmo: o remador da anedota. Ocorre-me, aqui, o Brecht para recomendar a esta gentalha que mude de povo, elegendo outro…

Um exemplo (para dar cunho científico à análise): numa situação a que assisti recentemente – e detenho prova documental para os mais cépticos e para eu próprio me certificar de que não se trata apenas de um produto de pesadelo alucinado – apenas para apurar a quem competiria a responsabilidade da liquidação de uma factura de 12 euros e uns cêntimos, devida por imperativo municipal por utilização de espaço público, assisti aos pareceres lavrados e respectivo encaminhamento de 18 (DEZOITO!!!) quadros superiores de uma empresa, entre os quais se contavam vários directores e, até, pelo menos dois administradores.

O resultado? Pois, três meses passados e a facturinha dos 12 EUROS lá continua por pagar, pois entre tantos crânios bem pensantes não se estabeleceu um consenso, nem se assumiu uma responsabilidade. Agora, a factura já leva coimas e muita vergonha…

Ridículo? Claro.

Dispendioso até ao irracional? Seguramente. Basta tentar imaginar o preço/hora de cada um daqueles quadros “dirigentes”, lavrando piramidais asneiras.

E não se fala de um caso isolado, pois este é o estado diário e permanente da nação. Quantos de vós conheceis casos idênticos?

Este é o real problema da competitividade e o resto são lérias dos bonzos que se enchem com o trabalho que tanto atacam, com nuvens de fumo com que tentam esconder as suas próprias cupidez, ganância e incompetência.