… é que por mais que a mulher de César se emboneque, cada vez mais faz questão de parecer uma grande puta, para além daquilo que a sua virtude muito bem lhe recomende e guie, portas adentro.
E, no fundo, é só por estas coisas todas que eu, aquela espécie degenerada de “trabalhador por conta de outrém”, não encaixo no bestunto tudo aquilo que vou pasmando de ouvir, à nossa volta. Vejam só:
– Vem o referendo sobre a Constituição Europeia e arrepelam os cabelos, em alta grita por que se não se vota o SIM, já não há Europa. Mas o que a malta devia votar não erá SÓ sobre esta Constituição que, agora, os tais que antes gritavam, já se preparam, afinal, para mudar a correr?… E a Europa ainda aí está… pelo menos, hoje de manhã estava, que eu vi.
– Vem o Vítor Constâncio e diz que a previsão do déficit, para 2005, é de 6,83%. Nem 84, nem 82! 83 e mainada, com grande certeza no contar!… O Sócrates, acolitado pelo Coelho e pelo Campos e Cunha, arregaça as mangas e vá de aumentar os impostos, numa medida altamente inovadora e original, apoiado na muleta do desgraçado déficit “herdado”.
– Vem a Manela, personagem acima de qualquer suspeita, e diz-nos que o Constâncio é fixe, mas divulgar assim o déficit é que foi uma aldrabice, porque uma previsão não é uma certeza e os impostos lixam-nos relativamente aos espanhóis e o poder de compra diminui e a economia afunda-se mais e… enfim, não se sai desta porra…
– Vem o João Talone arremelgar-se todo com o Mercado Ibérico da energia, com tudo que é parvo e ministro a passar a vida a dizer-nos que o nosso mal é a energia estar na mão de um monopólio… quando esse monopólio sempre esteve e ainda está, mesmo com as cosméticas das privatizações da tanga, na mão do Estado. Ora, se é o Estado o dono, o jogador e o árbitro, a porra do preço da energia não é definida por causas e efeitos de mercado mas por razões políticas que a razão desconhece, tal como acontece com a gasolina, o gás, etc…. Ou não?
Estou confuso, porque ainda hoje ouvi um representante dos empresários portugueses a dizer que o Mercado Europeu é que tem de ser e o Mercado Ibérico não faz sentido… Então, o que é que aquela malta anda para lá a fazer há uma data de anos?
– Vem o Sócrates, mais o Cunha e Silva, mais uma catrefa deles e diz que as reformas auferidas por altos cargadores (que são os que desempenham altos cargos) são legítimas, porque eles, coitados, trabalharam seis dias (ou seis meses, ou seis anos…) num poleiro qualquer… Mesmo que estivéssemos todos de acordo, o que não se entende é porque é que o tal reformado, coitado, não vai bugiar para as Seychelles e continua por cá a entupir o orçamento de Estado, ao activinho da Silva – na vedadeira acepção do nome – acumulando, também legitimamente, claro, uma pipa de massa das diversas funções, passadas, actuais, putativas, presuntivas e outras mais…
– Vem o Constâncio (outra vez, que ele aparece que se farta…) e, já esclarecido pela Manela o susto do déficit previsível – que o transforma assim a modos de um bruxo de novo tipo – e com as medidas do Sócrates já de velas desfraldadas, leia-se, portanto, “crise controlada”, vai de adquirir uma frota nova com cerca de 60 belos e caros carritos para o Banco de Portugal, que esta vida é uma pressa.
– Vem o “arrasto” em Carcavelos e o ameaço na Quarteira e o roubo descarado nos comboios da linha de Sintra e andam para aí uns xenófobos da treta a dizer que tem que se acabar com isto, que é uma pouca vergonha… e os operadores turísticos ficam preocupados porque estas notícias são divulgadas pela BBC, em Inglaterra.
Também não percebo… Então os rapazes não estão a copiar, à pequena escala da Cova da Moura e, porventura, com maior justificação, o que vêem fazer aos sucessivos governantes dos sucessivos governos e respectivas clientelas e com a mesma impunidade?
– Vêm os trabalhadores da administração pública chateados, entre outras coisas, com o aumento do tempo de idade para a reforma, quando o Sócrates, o Constâncio, o Belmiro e uma data de inteligentes e opinativos tinham acabado de dizer que é preciso diminuir o peso dos excedentários na função pública… Afinal, se estão excedentários, porque é que têm de ficar assim durante mais uns anos? Será para os castigar de uma vida de calaceirice? Estou confuso…
– Por fim – que isto vai longo, não se chega a conclusão nenhuma e a malta não tem pachorra para estas merdas – vêm os taxistas, queixosos porque a bandeirada aumentou… E ELES ATÉ NEM QUERIAM, pois assim o governo está a estragar-lhes ainda mais o negócio, que já anda pelas ruas da amargura!!!… Então, se eles que mexem na bandeira não querem, a bandeirada aumenta porquê?
Mas, afinal, que porra é esta em que andamos todos atascados?