há um verde de sabedoria intensa
que atravessa penumbras do meu espaço
através do olhar da minha gata

– que não é minha
pois só ela se possui –

e que tem essa imensa sabedoria
tão própria da circunstância biológica de se ser gato

sabe tudo o que sabe
sabe tudo o que é preciso saber
sabe ver o deslumbramento da escuridão nocturna
pelo brilho das estrelas
e devolve-nos esse olhar cheio de condescendências

deve ser bom ser-se gato
ter-se o mundo ao alcance da pata
e quando não
um simples salto basta para alcançar o mundo

deve ser bom ser-se gato
olhar e ver através de um mutável olhar todo verde
a ironia ou o desencanto a escoarem-se pela ponta da cauda
sem permanecerem viciosas por baixo da pelagem
ronronar sempre que nos apetecer

e
ainda assim
permanecer sempre gato

inexorável e intransigentemente gato.

– Poema e foto de Jorge Castro