(não esquecer que este é o ano inesiano e – vá lá saber-se – ainda descubro que tenho ali uma prima…)

entra o bobo num rompante
e alucinante grita o entremez
truão e tonitruante
sape-gato pronto
nem sei que te fez:

da Inês
coitada de amante
coração de pomba e era uma vez

do Pedro
coração de pedra mas de paixão cega
pela sua Inês

e um mais um não são dois
já que mais depois
se fizeram três

logo esse tal Dom Afonso
a fazer de sonso
meteu o nariz

naquele amor tão carnal
et coetra e tal
que matou por três
quando de punhal fatal
e tão desigual
matou D. Inês

fez-se no simples instante
o D. Pedro infante
rei cru e infeliz

desvaira
e doido varrido de tão desvalido
dá caça à má rês

e quando lhes deitou a mão
querem lá saber o que é que lhes fez?

numa fúria delirante
arrancou pela frente e outro por trás
os corações gelados
a dois dos malvados
foi zás-catrapás!

no fim
asinha-asinha
à Inês já morta
coroou rainha…

o quê? e tu não gostaste?
nem te entusiamaste?
nem tu? nem tu? nem tu?…
vê lá se queres que eu ainda
vá fazer queixinhas
ao D. Pedro
o cru.

sai o bobo em cambalhota
e a sua perna torta
fica para trás
a dizer adeus à malta
e o Pedro na escolta
leva a Inês atrás…

– Jorge Castro