Foto de Jorge Castro – Série Reflexos na Cidade

Luisito sempre fora um puto mimado e dado à coscuvilhice, sendo que numa relação causa-efeito difícil seria apurar se o mimo lhe crescia a par do seu domínio da arte da intriga, ou se ser intriguista lhe apurava a inclinação para a mimalhice.

Senhor de uma cultura geral extensa, ainda que pouco profunda – lá está: a necessidade de meter o nariz em tudo, não pelo interesse na coisa em si, mas por uma curiosidade inconsequente e quase mórbida –, com o alto patrocínio de uns pais mais que remediados ainda que cautelosamente distantes, cedo o nosso Luisito aprendeu a discorrer sobre tudo, com desenvoltura e espavento.

Da cultura das bonsai até ao mais sofisticado e recente helicóptero, da semiótica à arte da guerra, das canalizações domésticas à economia mundial, era perguntarem-lhe qualquer coisa, que a resposta saltava, eloquente, assertiva e fluida, produzindo um efeito basbaque, receoso e louvaminheiro no distinto, ainda que pouco exigente, auditório.

Como todos os Luisitos, este Luisito cresceu da idade dos caracóis e dos guizos, até à idade dos namoros e, depois, da gravata, sempre mimalho e “cusca”. Com o tempo e a necessidade de fazer pela vida, decidiu-se a aproveitar as suas tão naturais e ostensivas apetências e deu em comentador político nos jornais, televisões e, até, no aconchego do lar, benza-o Deus.

Porque a sorte favorece os audazes, felizmente para ele, tinha nascido em Portugal, campo de cultura fértil onde mimos e coscuvilhices medram profusamente, sem noção de ética ou responsabilidade de qualquer ordem e sem carecer de estrume. Na pior das hipóteses, eles próprios são o estrume.

Hoje, é um guru da chamada “opinião pública”. Faz, na vida, a cabeça dos outros ou, pelo menos, disso está delirantemente convencido.

Ainda que ninguém saiba definir muito bem o que é isso da “opinião pública”, havendo até quem resvale na insolência de considerar que a “opinião pública” é coisa sem existência real, não passando de eufemismo metafórico, com tanta diversidade de cabeça pensadora que há por aí fora e estando provado que os neurónios se estabelecem em ligações magnificamente aleatórias ou talvez não, no cérebro de cada um, lá pelos dezoito mesitos de idade.

A ser verdadeira esta opinião – tão válida, porventura, como qualquer opinião do próprio Luisito – as consequências na vida do nosso comentador serão tremendas e devastadoras: uma vida dedicada a contribuir para algo que, afinal, não existe, deve ser demolidor para qualquer criatura.

Nota final: é óbvio que esta personagem é ficcionada, não tendo existência real (aqui, também…). Trata-se, apenas, de um exercício de má-língua, em que este país também é fértil…