(Ora, saia lá uma de escárnio e maldizer para a mesa do canto!…)
Poeta de beco esconso
Um sonso
Ganha fama de maldito
E pronto
Lá vem de faca na liga
O tonto
Impante e a pedir briga
Relapso
Foge ao responso
Faz da vida desconsolo
O tolo
E num dia faz por lapso
Um poema-mastodonte
Que é fatal
E decisivo
Paradigma da verdade
Que faz tremer a cidade
E apaga o Sol no horizonte
Melhor talvez do que Ovídio
Que Gil Vicente ou Camões
Sai decreto e protocolo
Em que acede ao subsídio
Para evitar confusões
Ufano
Mais à vontade
Não haja quem o perturbe
O fulano passa a pano
O poema pela urbe
Diz urbano o seu poema
E diz-se à boca pequena
Poeta sim
Mas maldito!
E não será contradito
Pois assim é que ele se quer
Mas diz tão mal o poema
Que já lhe dizem de pena
Que de poeta maldito
Só diz mal dito o poema
E por mais que bem porfie
Por dizê-lo tão melhor
Fica o escrito mal dito
Em cada dia pior
Dia a dia adocicado
Por nuances de favor
E de cerviz bem dobrada
No beco esconso do vate
Maldizendo carestias
E a roupa mal lavada
Há hoje um triste esmoler
Vendendo versos à peça
A quem melhor lhos pagar
Bem se arvora ele em poeta
Para o que der e vier
Mas é poeta alugado
E o que ele faz
Refogado
Teria melhor sabor
Poeta será
Talvez…
Maldito não é quem quer.
– Jorge Castro