ouvindo o guitarrista Pedro Jóia em variações
sobre temas de Carlos Paredes

Às vezes dessa melodia soltava-se dolente
A dor sem tamanho
Uma melancolia
Talvez a saudade cheia de revoltas
Que nos atingia e nos espantava
Que nos afligia
Entre notas soltas
Às vezes era o que eu ouvia
O que tu ouvias
O que eu sentia
O que nos fazia
Soltar-se dolente uma dor tamanha
Nem tinha tamanho
Que nos envolvia
E que nos fazia sentir outro tempo
Outro igual ao vento
Que num contratempo ou num contraponto
Nos afligia
Por estar tão perto
Pelo sabor incerto de ser este o tempo

Às vezes saltitavam cordas
Como nós dos dedos
Com que se tangiam
Brancos de degredos como os nossos medos
Como as nossas vozes tristes de caladas
Erguidas em grito
Terrível
Maldito
De pronto desperto
De pronto tão certo de ser tão preciso
Ser atento e vivo num tempo indeciso

Às vezes
Era só o vento tudo o que se ouvia
O som de um lamento feito a contragosto
Ou em contraponto
À voz de amargura para além do tempo
Um vento que grita
Melodia aflita pela noite escura
E vibra em amarras de incerto veleiro
Vogando aventuras pelo mundo inteiro
Num som de guitarras.

– Jorge Castro