De um poema de Maria Mamede, publicado por Ognid, na Catedral, poema esse magnificamente apoiado – como é timbre – por uma imagem rigorosa e contundente, senti-me impelido a deixar também o meu grito contra a insanidade das guerras:

Do casario inocente ainda brotava
O sangue das paredes destruídas
Empapando a terra profanada
Pelas botas cardadas homicidas

E contudo renscia num recanto
Da semente que a vida nunca esquece
Uma flor num fio de voz
Um acalanto
E a mãe embala o filho numa prece

Tanto inverno e tanta dor na tempestade
Tanto ódio sem saber da vida o rumo
Mas naquele recanto só a Humanidade
Do estrondo da metralha
Espanta o fumo

Nada os cobre ou os protege
Nada abriga
Aquela mãe e o filho que amamenta
E o sorriso que ambos têm contra o frio
É a vida que de simples se sustenta.

– Jorge Castro

Trabalho de imagem sobre fotografia “Mother and Child”, de Alastair McNaughton, obtida em Himba, Namíbia.