Estás tão perto de mim que te respiro
E tão longe
Ao mesmo tempo
Que te invento
Se o teu seio sinto arfante num suspiro
De repente só de ti sei pensamento
Mais que onda és o mar e a terra toda
És a Lua e o Sol
És universo
E és o pó que cada estrela lança à toa
E cadente num poema és o seu verso
És a vaga em que vogam os sentidos
A papoila rubra e quente da campina
És do meu tempo
Os combates mais sofridos
E o silêncio de que é feita a neblina
Quando enfim nada mais tiver de meu
Do que as nuas mãos e a ânsia de um olhar
Serás tudo o que terei da terra ao céu
Liberdade
De sentir e degustar.
– Jorge Castro
Hoje, pelas 03h30 da manhã, Yasser Arafat foi declarado morto.
Uma vida e uma causa. Contra tudo, tanta vez, e contra tantos. Ainda mais por isso, uma Vida.
Enoja-me a hipocrisia politicamente correcta das homenagens que, ao mesmo tempo que lhe enaltecem o exemplo, asseguram que “agora” estão criadas condições
para um entendimento entre palestinianos e israelitas.
Que paz pode ser sustentada pelo desaparecimento físico de Arafat?
Entre a cegueira da “estabilidade” pôdre e a alegria dos seus inimigos figadais,
venha o diabo que escolha…
Não virá daí nada de transcendente para o mundo,
mas quero dedicar o poema acima à memória de Yasser Arafat.