Olho as tuas mãos
Avô
Encordoadas e tortas e fartas de mourejar
São esses os teus caminhos de encruzilhadas revoltas?
Tens estradas e veredas
E percursos de além-mar
Calejados e trementes à solta no teu regaço
Tens um calor no abraço
E a força do teu braço tão forçado a navegar
Diz-me
Avô
A cor das nuvens dos céus que tu escolheste
Diz-me os tons do arco-íris
Para eu crescer melhor
Diz-me só como correste na praia
Atrás das gaivotas
Que voavam assustadas para além do pôr-do-Sol
Diz-me
Avô
Porque ficaste com esses olhos tão verdes
Na tua cara enrugada
Que até parece de mar
E o sorriso cansado
Olhando aquela gaivota a quem não cansa o voar
Ensina-me a navegar
Mostra-me os rios e as fontes que vêm dos altos montes
E fazem estradas no mar
Avô
Mal aprendi eu a andar
Mas que procuro os caminhos que meus passos vão criar
Ergue a mão encordoada
Faz-te a vela
A alvorada
Faz do teu braço o alvoroço
Sê tu a minha amurada
Da rota que hei-de singrar
Avô
Vem comigo navegar!
– Jorge Castro