Há um túnel que descai e um outro que se esvai nesta capital do mundo
Há um metro já sem fundo e no ar um cheiro assaz preocupante pelo gás
Posto a eito em cada casa
Faltará um golpe de asa p’rà solvência destes males e mais que esperam que cales
Das estradas às portagens dos impostos às sondagens fica-se o país a esmo
Entre o pasmo e o marasmo
Para o gozo dos meninos que entre salmos e hinos vão aldrabando os papalvos
À espera de serem salvos
Pois a santanal figura
Improvável criatura de espavento e arrebiques
Governará lá os chiques butiques ou passarelas
Tias fingidas donzelas
Mas que faz ele ao país que distrata e que desdiz?
Vira-o dos pés p’rà cabeça em pressas de fogo à peça!
Faz disto a terra dos tolos e entre papas e bolos
Da cultura faz pepinos ou dos teatros casinos
De nada sabendo tudo
Faz do país um Entrudo e com o seu ar de maçada
De tudo faz palhaçada
Que falta nos faz O’Neil e Ary e outros mil
Para zurzir forte esta seita neste entremês de maleita
Talvez mesmo um Herculano a causar-lhes sério abano
Um Eça e mais um Ramalho a demolirem a malho
A corja fandanga e vil que vende ao retalho Abril
Se eles não estão
Estamos nós
Vai de aclarar a voz em gritos de fundo d’alma
Pois sabe-se que da espera nela ficar desespera
Doentia é esta calma com que pasmamos dolentes
Perdidos de ocidentes
Cabisbaixos contristados
Ao céu e ao mar especados
Parece até que apetece dizer de quanto acontece
Que nós por cá todos bem
Esperando que Belém
Em dia de inspiração
Se arvore em D. Sebastião…
Ou então em Pai Natal já que neste Carnaval
Ninguém leva nada a mal.