Não que desgostemos, ainda que sejam árduos os caminhos que a ela nos conduzem.
Apenas porque sim.
Porque é mais fácil deixarmo-nos amodorrar no declive dos dias, resvalando para esse estado letárgico, muito próximo da morte-em-vida, ainda que sem casulo ou, até, caixão que nos resguarde.
E, então, correm-nos as lágrimas pela face, pela tristeza de não sermos.
Outros há que escondem a cabeça no ninho de folhas que amontoaram e esgravatam, aves sem pena, enlouquecidas e ensimesmadas, até sem aperceberem que alguns dos gravetos que assim lançam, pelos ares e sem critério, embatem, crudelíssimos, naqueles que, à sua volta, vão passando.
Outros haverá…
E, afinal, no supermercado da vida, a oferta é variada:
– ele há as utopias do eterno retorno, atingindo nós, de cada vez, patamares mais elaborados de vivências, cada um deles mais subtil e encantatório;
– ele há a demanda da ilha-paraíso (o perdido, que se quer reencontrar) onde o néctar brota das fontes vinte e cinco horas por dia, onde as flores são as nossas roupas e tudo o mais está à distância ténue de um suspiro;
– ele há, ainda, a utopia do futuro, esse horizonte que de nós se afasta por cada passo da jornada e em igual proporção, mas de que não devemos abdicar pois que “o caminho se faz caminhando” e a beleza da vida deve ser encontrada, apenas e só, em cada uma das passadas;
– ele há, também, mais hodierna, essa utopia, sem tempo nem lugar, cibernáutica, internética, onde o Homem pode afirmar a sua individualidade, liberto enfim dos grilhões estreitos da Biologia…
Pois assim é, uma autêntica cebola da qual retiramos capa a capa, os olhos marejados de lágrimas que – e muito conveniente é que assim o seja… – hão-de ser de alegria!