Tenho-me debatido, de há uns tempos a esta parte, com uma espécie de fauna que assola o meu local de trabalho – corpos estranhos à empresa – que presumem dominar, numa escassa semana, o que todos os demais mortais levaram anos a fio a aprender. E, para além de serem assim inteligentes e espertos, estão sempre munidos de soluções milagrosas que passam, invariavelmente, pela “diminuição de recursos humanos” e que esgrimem contra o bom povo trabalhador, numa versão nova-vaga dos cavaleiros do Apocalipse.
Ah, já me esquecia…. Invariavelmente, também, eles e elas vestem de cinzento!
Apeteceu-me “cantá-los”…

Coitado do consultor

Estimável criatura que espiolha pela empresa

Com o empenho e a certeza

Do piolho na costura

Coitado do consultor

Que simula

Estimula

Puxa a carroça na praça com o empenho da mula

Sabe tudo sem saber que só se safa na praça

Porque na praça não passa sequer vestígio de mula

E passa ele – oh desgraça –

Pois que ficou a carroça e a mula foi a abater

Coitado do consultor

Que consulta pela gula de quem lhe paga melhor

Com certezas de saber

De nada tudo

E valer

De tudo nada saber

E faz de tudo a correr

Tira homem

Põe mulher

Muda o móvel se calhar

Para tudo render mais

E dizer logo depois em esquemas racionais

Que para a coisa avançar já há pessoal a mais

Coitado do consultor

Que é p’ró que der e vier

Saltando qual catapulta da consulta que resulta

Ao seja o que Deus quiser

Coitado do consultor

Quando o pobre descobrir que de consulta em consulta

Se hoje é ele quem exulta

Amanhã

Se Deus quiser e o Diabo deixar

Senta-se ele na catapulta…

… e ninguém o volta a ver!

– Jorge Castro