(Considero que os poemas longos não são os mais adequados para este espaço… Mas hoje o dia é de celebração desta “Irmandade”, como se vem chamando à Blogosfera. Aqui deixo, então, o meu contributo, como homenagem àqueles que roubam algumas horas a tudo para deixarem o seu testemunho neste espaço de partilha)

Cumpro o tempo que eu sinto por cumprir

Noite adentro quando o corpo quer dormir

Teclo ainda uma outra vez htt

E mais um p

Dois pontos

Barra e outra barra

Onde adivinho um novo dia

A alvorada

Sentir do outro um triste fado sem guitarra

Um riso alto

Destemperado e carniceiro

Ou um poema de migalhas e de enleios

Que alguém lançou ao sabor da madrugada

Ali à frente marcha alegre e companheiro

Aquele sendeiro

Maganão

Bem informado

Que partilha a dica

A faca

A força

A graça

De zurzir de peito aberto

Zombeteiro

Algum traste do poder que nos desgraça

Mais além

A pressentir já quase o dia

Há um frenesim de seio a arfar

Uma harmonia

De dois corpos só de amar num novo post

Que por mais que alguém diga que não goste

É record de audiências garantido

E há um homem entretido

Outro enganado

Um tristonho a sorrir

Um desagravo

E a mulher mais liberta

Com mais charme

Sem prisão de espelhos que a desarme

Ou mordaça de espartilhos que são moda

De esconder por toda a vida

A mulher toda

E o enjeitado

O seduzido

O apaixonado

Aquele que traz o peito afeito trespassado

Pelas mil lanças de que é feita a vida crua

Ali ficamos lado a lado

Em cada rua

A perceber que há mais irmãos

Mesmo sem jeito

Iguais a mim

Iguais a ti

Mais gente nua

Nesta aflição feita de bytes por defeito

Um riso

Um chasquinho

Ou ironias

Amarguras do pior

Melancolias

Um profundo estado de alma

Uma paleta de emoções a meio-tom em bicicleta

Em solfejo

Em dó maior

Deixo-te um beijo do melhor que de ti sei

Ou que em ti vejo

Nesta rede de sargaço em que tropeço

Fica aqui de comentário o meu abraço

E se me dizem doentio ou inconstante

Este instante de inconstâncias assumidas

Escondidas por detrás de um ente anónimo

O que importa é dar vida a estas vidas

Contra o negrume adensado sobre o mundo

E revelar num recanto adormecido

Um Pancho Villa

Um Che Guevara

Ou um Gerónimo

Ou até neste ocidental recanto

Feito de ais

De fado e mar

E desencanto

Ressurgir

De peito aberto e braço armado

O romantismo do nosso Zé do Telhado

Há assim este espaço de verdade

Ilusória

E tão fugaz

Tão delicada

De que se faz aquele sorriso de criança

E que nos dá

Em breve réstia de esperança

A descoberta

Do sabor da liberdade.



– Jorge Castro