Cumpro o tempo que eu sinto por cumprir
Noite adentro quando o corpo quer dormir
Teclo ainda uma outra vez htt
E mais um p
Dois pontos
Barra e outra barra
Onde adivinho um novo dia
A alvorada
Sentir do outro um triste fado sem guitarra
Um riso alto
Destemperado e carniceiro
Ou um poema de migalhas e de enleios
Que alguém lançou ao sabor da madrugada
Ali à frente marcha alegre e companheiro
Aquele sendeiro
Maganão
Bem informado
Que partilha a dica
A faca
A força
A graça
De zurzir de peito aberto
Zombeteiro
Algum traste do poder que nos desgraça
Mais além
A pressentir já quase o dia
Há um frenesim de seio a arfar
Uma harmonia
De dois corpos só de amar num novo post
Que por mais que alguém diga que não goste
É record de audiências garantido
E há um homem entretido
Outro enganado
Um tristonho a sorrir
Um desagravo
E a mulher mais liberta
Com mais charme
Sem prisão de espelhos que a desarme
Ou mordaça de espartilhos que são moda
De esconder por toda a vida
A mulher toda
E o enjeitado
O seduzido
O apaixonado
Aquele que traz o peito afeito trespassado
Pelas mil lanças de que é feita a vida crua
Ali ficamos lado a lado
Em cada rua
A perceber que há mais irmãos
Mesmo sem jeito
Iguais a mim
Iguais a ti
Mais gente nua
Nesta aflição feita de bytes por defeito
Um riso
Um chasquinho
Ou ironias
Amarguras do pior
Melancolias
Um profundo estado de alma
Uma paleta de emoções a meio-tom em bicicleta
Em solfejo
Em dó maior
Deixo-te um beijo do melhor que de ti sei
Ou que em ti vejo
Nesta rede de sargaço em que tropeço
Fica aqui de comentário o meu abraço
E se me dizem doentio ou inconstante
Este instante de inconstâncias assumidas
Escondidas por detrás de um ente anónimo
O que importa é dar vida a estas vidas
Contra o negrume adensado sobre o mundo
E revelar num recanto adormecido
Um Pancho Villa
Um Che Guevara
Ou um Gerónimo
Ou até neste ocidental recanto
Feito de ais
De fado e mar
E desencanto
Ressurgir
De peito aberto e braço armado
O romantismo do nosso Zé do Telhado
Há assim este espaço de verdade
Ilusória
E tão fugaz
Tão delicada
De que se faz aquele sorriso de criança
E que nos dá
Em breve réstia de esperança
A descoberta
Do sabor da liberdade.
– Jorge Castro