A serra da Arrábida, reserva natural, património nacional e, até, no que toca às espécies vegetais endémicas, património mundial ardeu numa extensão sem precedentes quando, ainda há poucos dias, nos era assegurado ser ela patrulhada regularmente (!) por fuzileiros destacados para o efeito.
Da Arrábida tudo se lamentará… As excelentes caminhadas que por lá fiz em companhia de muitas dezenas de apaixonados pelo contacto com a natureza estão, agora, amortalhadas num mar de cinza.
Do resto de país é o que se vê e o que se ouve…
Algumas (tantas…) questões poderão ser colocadas sobre este assunto, de interesse nacional. Como nem sou especialista na matéria, aconselha-me a prudência ponderar e sopesar bem as palavras que refira sobre este assunto de alto melindre. Mas a cidadania impõe-me algumas outras questões, que merecem ser gritadas aos quatro ventos:
– Se é consensual a relevância de uma serra da Arrábida, enquanto património natural, o que poderá justificar que em toda a serra não haja uma única torre de vigilância?
Sairia caro? E, se sim, seria mais caro (para dez anos) do que os recursos que, numa escassa semana, se delapidaram? E não me venham dizer que um corpo de vigilantes, em turnos de, por exemplo, seis horas, teriam de ser licenciados em Economia, ou detentores de algum mestrado em Humanidades…
Em regime de voluntariado remunerado, quantos empregos seriam criados por esse país fora? Ah, só há incêndios no Verão?… Pois é, mas também é suposto haver floresta o ano inteiro… e já não há!
– Da responsabilidade.
Fogo posto, mal posto, composto… enfim, de tudo e de todos se vai suspeitando. Entretanto, já nos fica pouco mais para arder! E, dos suspeitos engaiolados, resultado prático nunca nada se sabe
Face às constantes demissões de responsabilidade dos “nossos” responsáveis políticos, para quando um verdadeiro lesado mover uma acção contra o estado português por negligência criminosa? Ou, até, em circunstância de perda de vida humana, intentar uma acção por homicídio involuntário? Porque haverá esta errónea percepção de que os nossos políticos também são inimputáveis?
Enquanto pensamos nestas ingénuas questões, a verdade – como punhos – é que Portugal arde, sem remissão, decerto, mas duvido que seja sem pecado…