(Outra vez me apetece lembrar Abril, neste mar de bandeiras inquietas… Dir-me-ão que é monomania. Responder-vos-ei que não. Que é apenas o que de melhor descubro em vós.)
Um riso solto em cascata pelas ruas
Um novo alento respirado sem saudade
O homem velho a chorar feito criança
Pela esperança renascida sem idade
O teu sorriso inebriado que se lança
Cidade fora peito aberto à alvorada
Um pôr do Sol desta amargura incontida
Onde a revolta fez nascer a madrugada
Um arco-íris a sulcar a terra ferida
Como um arado com a cor da liberdade
Um vendaval feito de afectos e canções
Que de repente volta a vibrar na cidade
Chuva de cravos mais brilhantes que tições
Brasa atiçada
Mar de ilusão e verdade
Gritos de luz a desvendar o beco escuro
Gruas erguidas e martelos e razões
Punhos cerrados de derrubar tanto muro
De solidão
E aflições
E medos mil
À descoberta de outro tempo
Outra maneira
De renascer outra vez mais no mês de Abril
É a torrente impetuosa que avança
É caravela a navegar entre a tormenta
É cruzar mares feitos de vida e de ar puro
É riso alegre e feliz de uma criança
É querer firme e sentir de marinheiro
É recriar um mar de azeite na traineira
Lançando redes inundadas de futuro.
– Jorge Castro