Hoje eu cá celebro Abril

Não o Natal

Nem os santos

Nem tristes fados

Nem prantos

Hoje eu cá celebro Abril

Celebro o nascer da aurora

A promessa de outra era

A quimera

A utopia

De renascer cada dia

Céu de nuvens de grinaldas

Arco-íris do olhar

Hoje eu cá celebro Abril

Nem se me dá que não gostes

De prados verdes

Campinas

De altas montanhas

Ravinas

Ou do bramido do mar

Por mim sorvo a tempestade

O trovão ao fim da tarde

O arrulhar destas rolas

Por entre a vida desperta

No vermelho das papoilas

Hoje eu cá celebro Abril

Celebro o dia da festa

Nesta nau à descoberta

De um outro dentro de mim

Que sorva o ar às golfadas

Entre duas gargalhadas

E horizontes sem fim

Hoje eu cá celebro Abril

Entre a multidão que grita

Tal bramido de regato

Multiplicado por mil

Que a chuva

A neve

E o vento

Em tempo de invernia

Despenham contra o granito

Da mais fera penedia

Hoje eu cá tenho para mim

Fazer de Abril uma dança

A farândola sem fim

Feita riso de criança

Um Abril feito mulher

Feito homem

Feito esperança

Esse o Abril que renasce

Que se renova e acontece

Sempre que um homem quiser.

– Jorge Castro

(Nota: Apenas porque tenho para mim que é essa alegria de Abril que nos faz falta enquanto povo, pelo que nunca será de mais cantá-lo… ainda que a voz nos doa!)