Imóvel
Absorto
Enchapelado
De nau em riste
E na mão o mundo todo
Henrique fita margens só de névoas
Como se o mar se cumprisse na outra banda
Atrás dele uma turba espreita as dores
Que lhes chegam
Rio abaixo
Rio acima
E as velas não se enfunam
São de pedra
Nem navegam
Encalhadas nas neblinas
Por terrores bem piores que o escorbuto
A espada com o seu gume embotado
Nem as rotas de sangue ela já talha
Nem sequer fere de lágrimas esta raiva
Incrusta-se no convés da caravela
E se é mastro
Que sustenta esse velame
Também crava aquela nau de encontro à margem
Alfinete cruel em borboleta
Que por não poder voar
Perdeu o rumo.
– Jorge Castro