Vivo num país de sal

Onde a poesia já não flui de mão em mão

Eu vivo ao sul

Sempre ao sul deste país

E visto-me de Sol

Na ilusão

De não caber no coração esta raiz

E não há rios que apaguem o braseiro

Do deserto imenso em que me deito

Há só o mar

Este mar azul inteiro

Tão calmo e alteroso que é meu leito

E do incêndio onde ardem esperanças

Há-de sobrar

Por fim

Velho madeiro

Que aportará a uma praia sem rochedos

Sem escolhos escondidos e sem medos

Talvez nesse negro lenho adormecido

Volte a brotar a seiva verde da poesia

Onde o sal

O Sol

E o sul

Noutra harmonia

Mergulhem fundo

Comigo

E neste chão

A sua raiz.

– Jorge Castro