Dedicado à Thita, minha generosa “madrinha de blog”, e à Inês, que anuncia um mundo novo.

(depois de ler o conto de Jorge Luís Borges “O Disco”, in O Livro de Areia)

O João batia a bola

Mas que bem que ele a batia

Com jeito contra a parede

A bola que ele batia

Ia e vinha e vinha e ia

O sorriso atrás da bola

A bola atrás do sorriso

Pelo jeito que batia

A bola contra a parede

Ia o sorriso na bola

Vinha a bola num sorriso

O José que desdenhava

De tudo o que era riso

Invejava aquela bola

Invejava aquele sorriso

E sempre que a bola vinha

Com ela vinha azedume

E quando o sorriso ia

Saía do peito um lume

Que tanta mágoa trazia

Pelo sorriso na bola

Do sorriso que ele não tinha

Correu direito ao João

Gritou bateu e roubou

Esta bola agora é minha

Fugiu levando na mão

A bola que o João tinha

Escondeu-a em sítio escuro

E foi vingar-se do riso

Espreitando atrás do muro

Mas só lhe viu um sorriso

Da parede até ao João

Do João até ao riso

Afinal era o João

Não era nada da bola

Aquilo nem era um dom

Era apenas um sorriso…

– Jorge Castro