O que eu sei do teu corpo é quase nada

Sei mais do fogo e da água

Sei da terra

Sei do ar e sei do mar

Sei tanta coisa

E não sei do teu corpo quase nada

Sei que me tiras de seguida o que me deste

De ti bebido o absinto do desejo

E nem retenho o fugaz gosto de um beijo

E só sei que aqui estás porque te sinto

Por te amar tanto assim feito de urgência

Rodeado que ainda estou desse teu fogo

Logo de mim se apodera a tua ausência

É tão pouco o que me dás

E no entanto

Eu sinto

E sei

E vejo que é tanto

Porque és água e porque és mar em que me deito

E porque és a terra e o ar com que respiro

Se és um fogo que me afoga por defeito

Na urgência de um amor tão com sentido

Eu sei bem que não és minha

Minha amada

Pois só sei desse teu corpo quase nada.

– Jorge Castro

De comum acordo com Jorge Castro, dedicamos este poema às mulheres de Portugal que acabaram, uma vez mais, de ser insultadas por um ministro que sugeriu estabelecerem-se quotas de acesso universitário aos elementos do sexo feminino, invocando eventual falta de disponibilidade para o bom desempenho de funções em tempo de maternidade… Na mesma altura em que a esposa do sr. ministro obtém um lugar de administradora em 2 (DUAS) empresas do Grupo EDP (dos jornais).