Como saber deste país a alma funda
Onde quimeras sempre rimam com esperas?
Como saber viver em tanto destempero
Onde o amor é mal fatal e que se alinda
Entre pregões só de desgraça e desespero?
E afinal se virmos bem o mar está perto
Essa janela bem aberta à utopia
Mas é um mar que ruge bravo e mete medo
Que por despeito nem queremos descoberto
Quedos e mudos numa vã melancolia
E afinal se virmos bem o arvoredo
Que ainda mancha de esperança este país
Por mais que arda sabe vencer o deserto
Volta a nascer fio de prumo da raiz
Erguido ao céu voltado ao mar de rumo incerto
São as sementes o que temos mais de nosso
São as raízes que nos crescem mar afora
As quimeras a rimarem com auroras
Utopias que de tantas já nem posso
Sobraçá-las no regaço continente
Vai de largar as amarras infamantes
Vai de encarar esse tanto mar de frente
Com outras naus e outra fome e outros ventos
Com outras velas e até outros infantes
E surgirão por entre os mares novos poetas
Novas quimeras que anunciam novos dias
Amanhecidos no fulgor da estrela d’alva
Entardecendo na certeza do horizonte
Num firmamento povoado de utopias
Que são dos dias as estrelas mais brilhantes.
– Jorge Castro