Outro texto longo, mas não tanto como o ‘Equador’, e muito legível, que o Pedro Laranjeira fez o favor de me remeter em resposta sequencial ao anterior.

Não percam… que quem perde serão vocês. Sou eu que vos aviso. E quem vos avisa… Ei-lo:

É óbvio que o nacional-derrotismo é característico de qualquer povo que se tenha habituado ao longo de muitos anos “a ver como vive a outra metade”… Torna-se difícil quebrar esta inércia, mas é imperativo perceber-se que é possível!

Em Portugal, é particularmente complicado, porque deixamos durante demasiado tempo que nos dissessem (leia- se “mentissem”) o que era melhor para nós… No tempo da outra senhora era a censura, para nos proteger dos malefícios da informação real… …e uma informação paralela (leia-se “acção psico-social”) a enaltecer a grandeza da pátria multi-continental, etc., etc…

Hoje, como a informação é globalizante e nenhum governo consegue com eficácia impedir de todo o acesso dos seus cidadãos a ela, os processos têm que ser mais sofisticados: aqui, cumpre puxar as orelhas a quem acusa de

incompetência o governo de Durão Barroso! Pelo contrário, tem-se revelado extremamente competente e inventivo na criação de um senfim de manobras e estratégias para beneficiar aquela faixa do povo português que o povo

português elegeu para isso: eles. Sim, porque o entendimento deste governo sobre representatividade acabou ao fechar das urnas – nós elegemo-los, mas foi para fazerem o que entendessem a partir daí!

Ficou desde logo demonstrado que não havia nenhuma obrigação de cumprir promessas: prometera-se que não haveria aumento de impostos, foi logo a primeira das coisas esquecidas, e o IVA passou de 17 para 19%. Ainda por

cima, nenhuma daquelas mentes brilhantes percebeu em tempo útil que não estava a aumentar a receita fiscal mas sim a diminuir o poder de compra dos portugueses, como logo após o primeiro trimestre ficou demonstrado pelas contas públicas.

Mas enfim, com exemplos como o do senhor George W. Bush que, vinculado pela assinatura do seu país ao Tratado de Kyoto, não teve qualquer pejo em anunciar publicamente que não honraria o compromisso, face aos mais altos interesses do povo americano… (louvado seja o povo americano, que tem quem o ache mais importante que o resto da população mundial em bloco e tem uma cultura, ou sistema de ensino, que o prepara durante os seus anos de escolaridade para ACREDITAR nisto, o que efectivamente acontece)…

Mas voltando a Portugal: este país de maravilhas, cujo modelo de democracia esqueceu que o respeito pela vontade das maiorias não justifica nem permite a violação de outras vontades, quando legítimas e não ilegais, entendeu logo de início como democrática esta pérola de actuação: dado que não podia impor a sua vontade por si mesmo, enquanto partido vencedor, porque não tinha maioria de lugares no Parlamento, fez um negócio/contrato com quem bem entendeu, no caso outro partido, o PP, que, de modo algum, havia sido mandatado pelos portugueses para governar! Se alguém tinha o legítimo direito de participar na gestão pública logo a seguir ao PSD, então seria o segundo partido mais votado, o PS, nunca um partido com uma percentagem de votos que lhe apontam tão somente a falta de confiança do eleitorado para o

exercício de qualquer mandato. Convenhamos que há que desconfiar de um partido que quer “maioria”, o que

significa que pode fazer o que quer sem que lho impeçam, ao invés de ter que discutir as suas propostas até ao aperfeiçoamento possível, ao consenso possível!

Pessoalmente, julgava que o exercício do poder sem discussão era ditactorial, mas agora parece que pode ser democrático também!… O Governo, porém, ao contrário do que muitos pensam, tem dado provas de grande capacidade e inteligência: consegue aumentar o preço dos combustíveis quando baixa o crude, oferecer o nosso país para negociar e decidir uma guerra que a maioria dos cidadãos não aprova, baixar o custo das operações notariais mais caras aumentando o das mais baratas (claro que as mais caras representam 6% do total e as mais baratas são as que o cidadão comum precisa constantemente, aos milhares – 94% de todas – até por imposições legais que emanam, também, do próprio governo)… enfim, há mais alíneas deste tipo de decisões governamentais, nestes últimos anos, que registos na Lista Telefónica do Porto… Que dizer, aliás, de um Governo que é o primeiro a dar o exemplo de maus princípios e ilegalidade: dívidas para além dos prazos, sua liquidação (quando e se) sem juros, etc…?

Quanto à pedofilia: já toda a gente percebeu que não se trata de pedofilia mas sim de uma calculada caça às bruxas!

É verdade, porém, que distrai os portugueses das amarguras que lhes inventam e poupa os seus autores às críticas que mereceriam. Boa ajuda ao futebol dos fins de semana!

Lamentável é a responsabilidade que tem nesta área a crescente perda dos princípios deontológicos de certos “jornalismos” que vendem sensação tablóide ao invés de rigor e verdade – há excepções, felizmente, mas são tão

saudáveis quanto poucas. Mas tem valido a pena, ou o cidadão comum não se teria apercebido das

nuances da prisão preventiva, da actualidade das escutas telefónicas, etc…

Agora em relação a outra das nossas eminentes realidades, não tenho tanto a certeza de que Portugal esteja assim tão isento da mira fundamentalista do terrorismo religioso – gostaria de o acreditar, dada a nossa diminuta

importância, mas não se esqueça a aventura das Lages! O trio USA-Inglaterra-Espanha está na mira, provou-se (e acredito que Londres é uma questão de tempo, como o acreditam as autoridades britânicas): portanto, se

houver sequela, o hospedeiro da guerra será o próximo… ou não…?… Agora ligar isso ao Euro 2004 é que me parece idiota de todo! Sei que é muita gente junta, mas aos bocados e em locais muito diferentes em tempo e espaço.

Pensemos, porém, noutra hipóte: Portugal alberga em 2004 a maior concentração de pessoas em toda a Eurtopa e ao longo de todo o ano! Vem aí o Rock in Rio e, ao que sabemos, o objectivo do terrorismo não são alvos

políticos nem militares, são mesmo polulares, o que de resto não causará perturbações aos escrúpulos fundamentalistas: afinal o que é “preciso mesmo” resume-se a dois objectivos: atacar/castigar o ocidente e eliminar infiéis… verdade?

Oxalá (que oportuna a expressão!) tudo se resuma a música! Uma coisa os portugueses deveriam traçar como meta: estar atentos, não às notícias do que já sucedeu, mas, principalmente, às mentiras, fingimentos, manobras e aldrabices que TODOS OS DIAS nos chegam aos olhos e aos ouvidos! Porque os governos mentem, mentem todos os governos e mentem sempre, aqui e em todo o mundo.

Para perceber a extensão deste tipo de mentiras e a desfaçatez com que se insulta a inteligência dos povos impingindo-lhas, olhe-se o exemplo vergonhoso, bem recente, do governo de Aznar quanto aos bombardeamentos em

Madrid: Tratou-se de uma operação cuja estratégia relativamente aos comboios é bem mais complicada que a do 11 de Setembro o foi para os aviões, independentemente da gravidade ou mediatismo dos resultados finais; a

Operação Madrid foi mais difícil de planear e executar que a Operação Twin Towers, dada a complexidade do planeamento, conhecimento prévio de toda a movimentação ferroviária, respectivas composições e agendamento de deslocações, para além da própria execução operacional indetectada – tratou-se, pois de uma operação de grande capacidade organizativa.

O governo de Aznar não teve, porém, qualquer pejo em tentar matar dois coelhos com uma cajadada, apelando à opinião pública para descredibilizar de vez o movimento separartista basco, apontando-lhe o dedo acusador! Como se a

ETA tivesse algum dia tido capacidade para este complexo tipo de operação, além de não se enquadrar nas suas normas de conduta, tanto porque apenas atinge alvos políticos ou militares, como porque assina publicamente sempre

que o faz. No entanto, Aznar acusou-os e manteve a acusação durante bantante tempo, até após desmentido público dos separatistas bascos.

Porquê? Porque quem cometesse tamanha atrocidade como a de Atocha decerto perderia todo o apoio ou respeito, nacional e internacional, o que era do maior interesse para o governo espanhol!

Estas coisas não acontecem só em Espanha, não acontecem só a apartir da Casa Branca: acontecem todos os dias em Portugal!

Estejamos atentos!

Não sejamos burros!

Bem basta o que sofremos por decreto-lei, bem basta o destino que nos chega via maioria-parlamentar, para ainda por cima nos comerem as papas na cabeça… e deixarmos!

Estejamos atentos!

Pedro Laranjeira