09 de Fevereiro de 2004 – “Prós e Contras”, RTP 1 – Tema: Economia.

Simplesmente fantástico! Não, a sério!… Seis eminentes economistas, seis, redondos de conceitos e acutilantes na análise, desdobraram postulados, chicotearam-nos a autoestima, gritaram outra vez o Ipiranga… mas não explicaram à trabalhadora despedida da BRAX porque é que ela e as outras colegas só ganhavam 375 euros por mês quando o patrão alemão decidiu – economicamente, dir-se-ia – ir explorar as romenas, depois de ter esvaziado a teta das portuguesas, perante a complacência do nosso Estado.

“Prós”: Fernando Ulrich, João Talone, António Borges.

“Contras”: Pina Moura, António Almeida, Campos e Cunha.

Seis eminentes economistas, seis, todos com responsabilidades das gordas na área da economia nacional, concluíram que, afinal, entre prós e contras, estão todos de acordo! Os espanhóis são melhores? Venham eles, que nós somos bons cum’ó caraças e queremos é desafios e competição! Os irlandeses apostaram na educação e em trinta anos tornaram-se num caso único de sucesso na economia mundial? Pois, apostemos também na educação, carago! Estamos à espera de quê? E metamos veterinários a fazer de engenheiros civis, engenheiros de máquinas a fazer de gestores, advogados a fazer de amanuenses, psicólogos a varrer ruas…

Quando o único telespectador referiu, ao telefone, que os portugueses são bons no estrangeiro, não apenas porque há melhor gestão empresarial e dispositivos regulamentares mais eficazes, mas porque GANHAM MAIS e, assim, se sentem mais motivados porque, obviamente, o seu trabalho COMPENSA, já para nem falar do enquadramento social em que são mais protegidos do que na terra-mãe, os seis eminentes economistas, seis, mantiveram um generalizado e pudico silêncio… talvez comprometido.

Toda a gente é unânime em propalar aos quatro ventos que, em Portugal, o problema é a gestão. Eles próprios assim o confirmaram. Localizada, sectorial, estatal, o que se queira. Mas de gestão. E o que dizem a isso os nossos gestores? Que sim. Que é verdade! E daí? Nada, pois todos eles são casos inequívocos de sucesso aquém e além-mar! Onde é que estarão, então, os maus gestores? Queres ver que foram para o Canadá, para o Luxemburgo ou para a Irlanda?

O compadrio tentacular e cancerígeno, que mina todas as estruturas públicas e privadas, em Portugal, premiando os afilhados mas com um horror cósmico à competência e à eficácia, é silenciado despudoradamente por todos estes brilhantes e comprometidos analistas, que nos arrasam com as suas teses e nos desgraçam, ao mesmo tempo, com as suas práticas.

E, depois, a “lógica” de competição empresarial é esta: um director que nada faz, mas é recomendado pela cunha, aufere 7.500 euros mensais, fora todas as consabidas mordomias. Na mesma empresa, o escriturário que se esfalfa a tapar as incontáveis porcarias que todos os dias lhe “caem no prato”, por força de generalizadas incompetências, leva para casa, nas “boas” e grandes empresas, 1.000 euros mensais… e vai com sorte mas sem mordomias. Quando toca a fazer saneamento básico da empresa, estes dois “colaboradores” representam uma massa salarial de 8.500 euros, para uma produtividade que se fica 70% abaixo, por exemplo, da de “nuestros hermanos”. Que fazer? Simples: Corre-se com o escriturariozito, poupam-se, de imediato, uns tostanitos através das conhecidas “engenharias” contabilísticas… e pronto! O país fica mais pobre, mas aquela empresa já só tem quadros altamente qualificados.

Até que se faça o próximo levantamento de produtividade o problema está resolvido. É o progresso e a convergência europeia em todo o seu esplendor!…

Heróis do mar, nobre povo, nação valente!…