Pois é… hoje, eu continuo a ser Charlie…

O contributo do meu amigo Ernesto Matos para o grande movimento de alerta das consciências, na sua defesa pela calçada portuguesa, a conferir um cunho muito pessoal e identitário:

«Portugal salvo pela Igreja»,  de 1975, com a coragem e o espírito lúcido de Wolinski

O resultado prático de não termos tido nós a coragem e o espírito lúcido de Wolinski

Depois de tantas e tão ilustres
perorações sobre a infame ocorrência pela qual, ontem, em Paris, foram
assassinados quatro acérrimos defensores da liberdade de expressão e do livre
arbítrio – aqui entendido no seu mais assumido significado de vida em prol da
comunidade –, assassinados eles a par de vários outros seres humanos cuja única
e funesta circunstância terá sido o de se encontrarem naquele local e naquela
hora hedionda, pouco mais há a dizer que perturbe um silêncio reflexivo.
Mas uma coisa me parece clara por
entre a espessa neblina dos interesses e hipocrisias instalados: qualquer ser
humano (?) que manifeste, por pensamentos e actos, o seu tão flagrante desprezo
pela vida humana alheia, apenas pode e deve esperar dos demais um pagamento na
mesma moeda.
Entretanto, não é despiciendo que
a Humanidade no seu todo, se me for perdoada a redundante tautologia, colha
mais esta sangrenta lição que aponta para a urgência de progressiva e
incessante diminuição das assimetrias que, no mundo todo, geram os pântanos
insalubres onde medram tão abjectas criaturas como aquelas que ontem, em
Paris, dispararam infamemente contra homens desarmados, cujo único senão era o
de pensarem de modo diferente.
Vítimas estas, sim, gente como eu
e tu, que acreditam que a redenção do ser humano se encontra nele próprio, na
sua conjugação com os demais. 

Sugestão

Amanhã, dia 25 de Outubro, pelas 15 horas, na Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha, em mais uma homenagem a António Feio, com Carlos Peres Feio, Proença de Carvalho, Hugo Sampaio e eu, em sessão organizada pela Comunidade de Leitores e Cinéfilos das Caldas da Rainha…

… Apareçam, caríssimos, que a sala comporta muitos interessados e o tema proposto é, seguramente, sempre aliciante.

ainda as 100 noites… com poemas

Será, se quiserem, um exercício de imodéstia que nem me importo de assumir. Mas é, muito mais, a retribuição pelo abraço que várias amizades fizeram questão em me dar, na forma de poema, durante a sessão comemorativa das 100 Noites e que aqui faço questão de dar realce.
– de MARIA DO ROSÁRIO FREITAS:
(Na 100ª sessão, um abraço com amizade – 19 de Setembro de 2014)
Noites com poemas
Noites brilhantes
Onde o calor
Irmana da amizade
Transpõe fronteiras
Envolve
Sussurra afectos
Constrói pontes
Oferece
Magia
Poética
Opera
Encanto
Música
Arte
Sabores sonhados
– de ANA FREITAS:
(para ti, Amigo, um grande abraço – 20-09-2014)
É com muita alegria e consideração que estou aqui hoje, aliás como sempre estive, mas hoje é especial, é a sessão 100.
Sou filha das Noites com Poemas, foi aqui que iniciei a minha aventura na poesia em 2009.
E isto porque encontrei um grupo de pessoas que sempre me acolheu bem e incentivou. Sempre senti uma satisfação e orgulho enormes em pertencer a este grupo. Muito obrigada a todos.
E tudo isto porque um dia conheci Jorge Castro, um poeta e dezedor fantásticos, um comunicador por excelência que me falou das suas andanças na poesia pelo simples prazer da palavra e por levar aos outros os seus ideais, sem qualquer retorno económico. Julgo que era este mundo que eu procurava, o da partilha pela partilha. E convidou-me a vir até aqui.
Grata para sempre, Jorge Castro.
E a Jorge Castro, um amigo de convicções e de luta, dedico este meu poema Abril em mãos (24-03-2014):
demos as mão por Abril
tomemos Abril nas mãos
que as mãos que fizeram Abril
têm o sabor a pão
tantas mãos hoje abertas
inertes
dolentes
onde a liberdade não mora
por onde a esperança se esvai
fechemo-las com garra
agarrando Abril
cantando um novo sol
demos as mãos por Abril
tomemos Abril nas mãos
que as mãos que fizeram Abril
têm o sabor a pão
– de FRANCISCO JOSÉ LAMPREIA:
Semearam poemas e sorrisos durante nove anos
– Os poemas não dão votos, concluíram.
Quando estas novas chegaram os poemas secaram, os sorrisos voaram
E a Terra ficou mais triste. 
– de EDUARDO MARTINS:
«Noites com Poemas», sessões cem…
E mais de cem razões para aqui estar.
Mas infelizmente, há sempre alguém,
Paa quem, melhor que resistir… é ignorar.
– de CARLOS PERES FEIO:
Amigos, afinal, 
presto-te uma homenagem
companheiros na mesma margem,
deste voz ao homem e à mulher
todos somos poucos para te agradecer 
– de DAVID SILVA:
«Quando as vozes não são ocas
e ão ardendo os mundos num grito
100 ainda são poucas
E para cada um nasce um mito»
– de LUÍS PERDIGÃO:
Mestre Jorge controla o tambor
Faz as palavras terem sabor
Quem sente aquilo que diz
vive sempre sempre mais faliz
– de ANA FREITAS:
um cento vivo de sessões
na bagagem poemas e afectos
pela partilha fomos
e o longe se fez perto
o tempo mais leve ficou
na voragem da vida que passou
Noites com Poemas
o futuro sem ti
seria o vazio que não queremos
– de LOURDES CALMEIRO:
Ao meu-senhor-de-mim
Por cumplicidade
Por afecto
Só por isso
e tudo mais
100 sorrisos
– de JOÃO BAPTISTA COELHO:
O mar da vida, um veleiro
vela panda em cada mastro.
Cem noites, e a tempo inteiro,
Dá-lhe o rumo… Jorge Castro!
Corolário deste afã de nove anos que não se esgotou, muito longe disso, nas sessões das Noites com Poemas, mas que se replicou e vai replicando em inúmeras manifestações a desvendar o «mistério de todas as coisas» – e que um poema é – estes companheiros de jornada porfiam, ainda, pelos amanhãs que cantam e por isso me são tão próximos. A cada um deles direi, então:   
dos demais não sei
que a vida nos desgasta
sei porém que tu me deste
o que te dei
e isso me basta!

O meu abraço.

uma outra homenagem a António Feio

«Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros.
Apreciem cada momento.
Agradeçam…
e não deixem nada por dizer,nada por fazer»
– António Feio, na apresentação do filme Contraluz,
de Fernando Fragata.
são dispersos os caminhos que
fazemos
ao buscar na vida toda algum
sentido
por caminhos nunca iguais que
percorremos
sem jamais ter retorno o
percorrido
mas é quando se apura que a
viagem
que fazemos na aventura de
uma vida
tem um encanto maior outra
paisagem
na amizade solidária e
repartida
talvez seja a palavra que nos
una
talvez seja um olhar que se
partilha
ou talvez a consciência mais
profunda
de que homem algum seja uma
ilha
e cruzamos cada palco e cada
cena
cada personagem vestida de
outra vida
na certeza de jamais nos ser
pequena
essa vida sempre incerta mas
vivida
e ficamos bem melhor nesse
outro enlace
ao alcance de outro braço –
outra passada
que nós damos em comum com
quem abrace
o andar perto de nós na
caminhada
e a estéril vereda percorrida
só de agrestes silvados mil
espinhos
é o pomar farto a lavra
enriquecida
que afinal se abre em nós por
mil caminhos.
– Jorge Castro

Levei, entre vários outros, estes versos à sessão que ocorreu, há dias, no Bistrô 19, em Cascais – um obrigado à nossa anfitriã Alexandra – onde, pela mão de Carlos Feio e acompanhados por José Proença e Hugo Santos, a quem se juntou, também, Arthur Santos, homenageámos, em agradável e descontraído convívio, António Feio.
A memória solidifica-se assim: por actos, muito mais do que por dispersas palavras…