Veja o João Manuel Serra AQUI.
quando os dias vão passando a acenar
a quem passa junto dele
só por passar
no presente que se escoa na cidade
lança ao ar como que um ar da sua graça
que não custa
nada mais por ser de graça
no sorriso que nos lança sem idade
junto à berma do passeio a mão no ar
ele entrega sem receio e sem pensar
o melhor que de si tem para nos dar
e o trânsito atrapalha-se ao aceno
daquele sinaleiro velho e seu ar terno
que sorri para nós por ali estar
pelo ar em voo solta a sua mão
aliado a um sorriso que é eterno
a afastar de si um mar de solidão
hoje foi notícia breve a tua morte
num jornal onde caiu o meu olhar
e a cidade parou
perdeu o norte
e ficou mais outonal
crepuscular
mas em cada esquina viva de Lisboa
onde o dia se atrofia e é mais pequeno
naquele bando de pardais que a sobrevoa
ali está – caro João – o teu aceno.
– poema de Jorge Castro