(isto só pode ser «overdose» do dia dos poetas ou excesso de pólen primaveril…)

ser poeta é uma arrelia e a poesia uma treta
coisa de fazer azia por dá cá alguma peta
não nos fiemos nas flores
nos madrigais
nos amores
uns figadais outros mais ou menos destemperados
que eles dizem querer ir aos fados
mas anseiam bacanais
ah o mundo que lá vem e o outro onde eu quero ir
mas só se vieres também que a coisa está de fugir
deixa-me fazer-te um verso tão profundo e pertinaz
que se leia pelo inverso e da frente para trás
que ninguém bem o entenda mas que se estenda pela rua
gritando não estar à venda mas vendido até na Lua
é garantido sucesso
flor de sal da literatura
probóscide ou abcesso
abstrusa criatura
ganhará fama e proveito até ao momento grave
em que ao pôr-se tanto a jeito
nem é poeta
é uma ave
ou um pássaro bisnau planando ao sabor do vento
como sem leme uma nau voga ao rumo do momento
falo-te agora em papoilas
lunares ou
pior
cuidares que são moçoilas
campestres
com apetites rupestres disfarçados de alguidares
vá lá
não me jures perceber o que não é entendível
no limite diz-me ser algo assim meio impossível
mas que tem graça e inspira
o estro
o astro
e o mastro daquela nau à deriva
mas que transpira poesia tal qual uma almotolia
transporta o azeite do dia
oleando
oleando
olé-olé até quando…?

  • Jorge Castro
    23 de Março de 2021