Do estado do mundo já nós
todos sabemos que está perigoso. Mas, assim como assim, visto que é lá fora, é
chato, mas a maltinha aguenta, remetendo-lhe um interesse, quando existe,
muito, muito periférico.

De tal modo que mesmo com
um Almaraz à porta, vendo bem sempre é do lado de lá da fronteira que, como
todos sabemos, é assim a modos que uma barreira invisível que nos protege de
tudo e mais alguma coisa…

Do Donald pato-bravo e do
seu inenarrável penteado – que evoca vagamente um pato mandarim – sente-se
alguma apreensão. Ma non troppo.

Agora, cá dentro, nesta
variedade lusitana da cosa nostra, a
coisa pia mais fino. Ou pia ou fia, que nunca apurei da justeza do dito, mas
vai tudo dar ao mesmo.

Massacrado até ao mais
profundo do meu âmago com o pseudo «caso Centeno» e sem qualquer interesse no
assunto para além do elementar facto de considerar que a Caixa Geral de
Depósitos é portuguesa e assim se deve manter, e já que todo o comentador
comenta o não-assunto, porque não hei-de eu comentá-lo também?

E, afinal, tenho muito
pouco para comentar, para além do óbvio. Veja-se:

1.     
Mas houve, de facto, algum acordo com o
António Domingues? Não. O governo não acordou nada com o António Domingues. E
isto é definitivamente claro e claramente definitivo.

2.     
Mas houve, de facto, alguma promessa do
ministro Centeno a António Domingues do tipo espera-aí-que-eu-vou-ver-o
que-se-pode-arranjar? Claro que houve. E daí? O homem é especialista no regime
jurídico ou ele é mais números e é para isso que integra o elenco governativo?
Entretanto, o chefe disse-lhe: não, pá, isso não pode ser nada… E acabou a
conversa!

3.     
Ah, mas não vieram confessar essa fraqueza
ao povo? Enfim, tenho para mim e pelo que tenho sempre visto, que, se de cada
vez que um ministro manifestasse fraqueza em qualquer item da governação viesse
confessar tal ignomínia ao povo, há uma data de anos que não se faria mais nada
na nobre arte da governação.

4.     
Alguém sabe dizer-me se a Autoridade
Tributária ou qualquer outra força viva – e mesmo, até, as moribundas – já
estão a investigar o «currículo» de António Domingues e do seu grupo nomeado
para a administração da CGD? É que, aí sim, perante tanta necessidade de
reserva de confidencialidade sobre a declaração de respectivos rendimentos não
estamos em presença de um gato escondido com o rabo de fora mas, antes, de um
rabo escondido com o gato de fora. Eu, se fosse às tais forças vivas,
escarafuncharia a sério, nem que fosse só para chatear… Como, aliás, parece
tantas vezes ser objectivo primeiro da AT junto do cidadão normal.

Pelo meio disto tudo, a
geringonça lá vai indo… e nós todos com ela. Do défice é o que se vai sabendo e
o País, se não exulta descabeladamente com a reversão da roubalheira perpetrada
nos anos do Coelho, lá vai respirando, aos soluços embora, após tremenda
asfixia.

A Caixa ainda é nossa.
Não é de Moscovo, nem da China, nem de Angola, nem de Espanha, ao contrário do
que acontece em tudo que é negócio chorudo em Portugal. 

E, pelos vistos, esta é,
no fim de contas, a circunstância que apoquenta a «oposição» a que temos
direito.

Eu não sei se se lembram
de que, já no tempo da ditadura, o que se dizia do principal drama da direita
portuguesa nem era ser, como era, retrógrada. O problema maior era ser estúpida
– o que, aliás, são características que tendem a andar juntas.  E parece que há coisas que não mudam.

Nota – «trampice» é o
resultado da união de «trumpice» com trampolinice, nalguma noite sem luar.