Controverso como a Vida que viveu, com maiúscula, de corpo inteiro e largo espírito. E tanto me basta, que nunca fui admirador sem condições.
 
Na espiral que nos leva vida fora, a pegada de alguns – lamentavelmente poucos – marca indelevelmente essa coisa pouca e, entretanto, enorme que é a Humanidade. Mário Soares é, neste contexto, um caso digno de estudo: o seu amor pela polis confunde-se com a sua fruição da vida.
 
Cada acto seu, comandado pelo impulso do momento muito mais do que por uma acção programática pré-feita e conjecturada, determinava-se segundo dois vectores determinantes: a Democracia e a Liberdade. E assim se movia.
 
Errou que se fartou, seguiu, então, derivas norteadas pelo pragmatismo político, porventura muito para além da razão fria. Não podia, assim, deixar de tropeçar nos escolhos da jornada.
 
Mas talvez seja essa, para mim, a sua dimensão maior: o ser humano entre humanos. E o seu calculismo político assumiu, por isso, a linha orientadora do que consideraria o bem comum, não se empecilhando em favorecimentos circunstanciais ou de proximidade.
 
Não sou dos que considera, em situações destas, que «todos ficamos mais pobres». Não. O seu legado está aí e ao nosso alcance. Basta segui-lo.