Dizer que foi bonita a festa, pá, é verdade, mas é insuficiente. Estamos perante uma das flagrantes situações das quais se dirá que só presencialmente se poderá avaliar justamente o que se passou.
Dia 20 de Setembro, pelas 17h30, na Biblioteca Municipal de Cascais, em São Domingos de Rana.
Corolário de nove anos de porfiados caminhos nas sendas da cidadania participativa, nesta sessão tivemos todos o grato prazer de apurar a dimensão da resposta que colhemos.

A recepção constou de um beberete da iniciativa da Biblioteca Municipal da Câmara Municipal de Cascais, enriquecido por generosos (e doces) acréscimos que alguns dos presentes decidiram, por alta recreação, trazer – também sinal do espírito festivo e solidário com que abordaram o evento.   

Cristina Pacheco, responsável pela Divisão do pelouro da Cultura, deu as simpáticas boas vindas e honrou todos os presentes com o cumprimento espontâneo por tamanha ter sido a comparência, na enorme sala que, progressivamente, se ia revelando, exígua para o afluxo de amigos.    

Valter Amaral, que dirige actualmente a Biblioteca de São Domingos de Rana, como sempre em sóbria mas assertiva economia de palavras, louvou também a iniciativa e todos os presentes, deixando por referir a excelente e muito empenhada colaboração que dele sempre contámos e que culminou no afã em tornar esta 100ª sessão das Noites com Poemas um caso sério no panorama dos eventos de cariz cultural neste concelho de Cascais.  

Coube-me, de seguida, fazer um extenso historial desta actividade que, tendo sido iniciada em Setembro de 2005, cresceu até Setembro de 2014… e tudo leva a crer que irá prosseguir.

Tarefa difícil, porquanto muitos companheiros há a referir nesta caminhada, cabendo a cada um a sua parte dos louros, pois que dúvidas não haja quanto ao facto de este edifício ter sabido contar com a quota-parte empenhada e interessada das muitas centenas de convidados, com quem contámos nas 99 sessões que precederam a presente e cujos nomes foram divulgados em folheto a tal destinado.

Do livro comemorativo da efeméride com que contávamos para lançamento nesta sessão – e cujo conteúdo se encontra concluído – se falou, para referir o adiamento de tal projecto por alegada e/ou consabida escassez de verbas… Enfim, um projecto a retomar em melhores dias. 

Entretanto e por iniciativa e criação de Lourdes Calmeiro, foi sendo projectada uma apresentação evocativa das 99 sessões decorridas, com exibição dos respectivos cartazes, nome de convidados e temas, bem como profusa documentação fotográfica, para memória futura – para cima de 750 slides  com milhares de fotografias.

De algum modo, esses convidados e amigos foram sendo, assim, a sombra tutelar da iniciativa.

Alexandre Castro expôs as razões que o levaram, com a Marta Casaca, a criar o muito original cartaz desta sessão, que haveria de vir a ser distribuído, unidade a unidade, com a funcionalidade de marcador de livros e, no seu verso, com os elementos essenciais da orgânica desta iniciativa, por todos quantos, na assistência, se mostraram interessados em reter este testemunho.
Afinal, um cartaz-metáfora do que têm vindo a ser, mês após mês, estas nossas Noites.  

De seguida, Luís Filipe Coelho, como representante da editora Apenas Livros e director da colecção Literatralha Nobelizável, apresentou sucintamente o livro de João Baptista Coelho, Filosofia Quadrada, preparado para comemorar, também, esta sessão e que se encontrava disponível na sala.
Disse Luís Filipe Coelho do autor que o equiparava a António Aleixo, referindo logo a seguir que considerava Aleixo um dos maiores nomes da poesia do século passado… E, muitas vezes, não é preciso dizer-se muito, para se dizer o que é preciso!

A par deste livro um outro, de autoria ignota, mas com o qual Luís Filipe Coelho lavrou o seu cunho peculiar de desassombro ao anunciar como outra obra presente na sala e criada para o efeito: Aporias da Pachacha.

Durante um breve intervalo, os assistentes foram convidados a deslocarem-se até ao cartaz criado para esta sessão por Alexandre Castro e Marta Casaca, a fim de obterem um dos marcadores de livros em que o mesmo se decompunha, num puzzle original, contendo no verso a referência (numerada) a esta 100ª sessão, constituindo assim um objecto único e marcante para todos aqueles que corresponderam à iniciativa.  

Os autores autografando cada peça original.

Também João Baptista Coelho não teve mãos a medir para os autógrafos solicitados à sua Filosofia Quadrada, cuja primeira tiragem, segundo julgo saber, se esgotou nesta sessão.

Deram, de seguida, entrada os coros, começando com o  Grupo Coral Estrelas do Guadiana, de Tires… 

… cuja presença nestas aventuras vai sendo costumeira, com a alta qualidade a que nos habituaram e sempre com reportório variado. 

José Colaço, o porta-voz do grupo.

Eduardo Martins, maestro do segundo grupo em presença…

… o Grupo Coral ViVa Voz, constituído pelos antigos alunos do Liceu de Oeiras e amigos… 

… do qual se poderá destacar o apurado e tão diversificado reportório, que têm artes de adequar às mil maravilhas a cada evento em que comparecem, a que aliam uma polifonia complexa, trabalhada e com efeitos surpreendentes, de excelente resultado final.   

Logo mais, lugar ao CRAMOL, grupo feminino de cantares tradicionais, sediado na Biblioteca Operária Oeirense, companheiras de tantas andanças em prol desse quase nada-quase tudo… 

… que são as melhores tradições culturais que nos enformam

Destas magníficas e poderosas vozes deixo aqui um comentário que me foi feito, durante a sessão, por alguém que mal as conhecia: «- Olha lá, tu tens a certeza de que elas não têm amplificação das vozes…? É que até parece impossível…!» 

E assim foi acontecendo, sem que a sala esmorecesse ou alguém arredasse pé.

Terceira parte inaugurada por uma surpresa orquestrada por Lourdes Calmeiro e todos os amigos e companheiros de lides poéticas neste espaço das Noites com Poemas, que constituem o chamado «núcleo duro», companheiros com os quais sempre soube contar para a elevação e enriquecimento deste espaço, no que se refere à participação qualificada, como na gestão dos afectos e cumplicidades… 

… sem os quais, é bem sabido, não chegamos nunca a lado nenhum. 

Um imenso abraço a todos, sem destrinça de qualquer ordem pela percepção nítida da riqueza diversificada de personalidades, mas com uma emoção muito grande!

E os demais amigos de sempre, marcando presença e engrossando o património imaterial desta nossa acção colectiva.

Nas Noites com Poemas havia que dar voz à poesia, desta feita, contudo, e por óbvias razões de tempo, sem tempo para a ronda pelo público que tem sido matriz das 99 sessões passadas.

Aberta apenas a excepção ao grupo de jograis Oeiras Verde, conduzido por Ana Patacho, que tantas vezes marcaram presença em diversas sessões e grupo que cheguei a integrar durante cerca de dois anos.
Logo depois, a palavra poética ao «naipe glorioso» – nunca assim foram chamados, mas agora apeteceu-me:

– Ana Freitas

– Carlos Peres Feio

– Eduardo Martins

– Francisco José Lampreia

– David Silva

Lídia Castro, dizendo um poema de Maria Francília Pinheiro

– João Baptista Coelho

– Jorge Castro

– Luís Perdigão

Houve, até, insuspeitos «observadores estrangeiros» que manifestaram a sua admiração por tão intensa e ilustrada comemoração…

Os autores do cartaz, em registo para memória futura do «estado de carência» a que ficou reduzido o mesmo. Espera-se, como ficou dito, que cada uma das peças transportadas pelos assistentes venham a servir de esteio para que nos voltemos todos a encontrar daqui a uma década, para celebração deste evento e de tantas cumplicidades.

O aplauso final e alegre de quem gostou e nos acompanhou até ao final, passava já das 21 horas. Aplauso que retribuímos e retribuiremos sempre pois, como sempre ficou dito, tudo isto pouca graça teria sem a graça de quem assiste e apoia, de corpo e alma, iniciativas deste teor… em que, afinal, o país é fértil, realidade que os poderes instituídos fingem ignorar. Mas nós cá estamos!
fotografias de Lourdes Calmeiro e de José Freitas