– reflexão suscitada pela irracionalidade do conflito na faixa de Gaza
ainda se fôssemos seres
marinhos
marinhos
da família que se diz de
equinodermes
equinodermes
simétricos se larvares
mas radiais ao crescer
metáforas do deus Hermes
tão férteis nos seus caminhos
prolíficos até morrer
ah se fôssemos holotúria
sem cérebro ou consciência
uma estrela ambulacrária
de inconstante pertinência
– seja aqui ou no Camboja –
por ter tal conveniência
de um braço já se despoja
um ofiurídeo – um crinóide
sem ter sistema nervoso
dando um ar imbecilóide
ao sujeito comatoso
que come só p’ra viver
vivendo para comer
num destino glorioso
mas não –
só estamos para aqui
sempre humanos sem querer
e matando outros humanos
que nem servem para comer
enchendo o mundo de enganos
sem dar o braço a torcer
– e que fará a arrancar…!
porque sabemos mudar
mas não está a apetecer…
… e no entanto o dia é fundo
e descabido
e descabido
na imensidão abissal do
despautério
despautério
e mergulhamos a contragosto mal
sofrido
sofrido
tais bivalves tão expostos
sem mistério…
sem mistério…
– Jorge Castro
29 de Julho de 2014
abraço, meu caro Jorge.
um belo e comovente poema. compreende-se a angústia e a inquietação.
uma vergonha.
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