A canção enquanto mensagem, foi o tema proposto para a 98ª sessão das Noites com Poemas, na Biblioteca Municipal de Cascais, em São Domingos de Rana. 
Feito o anúncio, passei à apresentação dos convidados: Rogério Charraz, proponente do tema… 

… e Manuel Veiga, autor do livro Poemas Cativos, editado pela Poética Edições. 

Rogério Charraz , de quem faço questão, em primeiro lugar, de destacar a total disponibilidade para esta nossa sessão, em altura do ano pouco propícia a acções pro bono para quem vive da sua profissão… 

… ainda para mais, pelo seu grande envolvimento e empenho no tema proposto, que expôs com desassombro, segurança e lhaneza, combatendo estereótipos que alguns teimam em associar  a um longo cordão de cantores e autores (cantautores, como lhes vão chamando…) que encheram – e enchem, ainda, como ficou provado – as nossas cabeças de sonhos, cumprindo o mais importante, como diria Gabriel Celaya, e que são gritos no céu e na terra são actos. 

Perante um grupo de assistentes interessados e colaborantes, recordei, muito a propósito do que estava a ser dito, uma entrevista a José
Mário Branco, acerca de José Afonso e da sua música: «[A conotação de José Afonso
com a luta política] é o resultado de um epíteto que a certa altura se começou
a usar em Portugal, inventado em grande parte para ser atribuído ao Zeca e
àqueles que se inscrevem no movimento que o Zeca começou, o de cantor de
intervenção
. [Epíteto] que tem, a meu ver, dois defeitos: o primeiro é que,
se o Zeca é um cantor de intervenção, dá a impressão que o Tony Carreira e o
Marco Paulo não são cantores de intervenção, e a verdade é que são, até
intervêm muito mais que o Zeca ou qualquer outro. E o segundo é que [este epíteto]
é uma maneira de diminuir o alcance da obra dele, porque a obra do Zeca tem
algumas canções políticas, contestatárias, de protesto, de testemunho de lutas
concretas. Mas tem muito mais que isso: tem canções de amor, canções poéticas,
canções de todo o género
».

Rogério Charraz defendeu a tese com sabedoria e levou-a à prática com a sua magnífica voz e grande mestria instrumental, guiando-nos através de um percurso recheado de canções que vogam no nosso imaginário, enformando-nos, afinal, enquanto portugueses, aqui
Dele direi, em metáforas muito concretas, que hasteia essa bandeira do livre pensamento, do Maio em flor, do amor sempre de novo inventado, prova viva de que a vida continua, a sementeira floresceu, como todo o ciclo de vida se refaz. Parece, pois, que sempre é verdade que não há machado que corte a raíz ao pensamento…   

Coube-me, de seguida, dar voz a alguns dos belos Poemas Cativos (apenas na sugestão do autor, digo eu, pois respiram liberdade todos eles…), como introdução prática ao livro de Manuel Veiga, companheiro de longa data de muita vida passada nos blogues, ambos cuidando que essa passagem seja, de um e de outro modo, útil e proveitosa.

Depois, o Manuel levou-nos em passeio curto, mas pródigo, através dos seus calcorreados caminhos…

… onde, curiosamente, viemos a encontrar-nos próximos, por acasos em que a vida é pródiga… 

… tendo feito o Manuel Veiga a ponte que uniu todos esses percursos, alicerçada nas convergências com o que Rogério Charraz ilustrara no início desta nossa sessão. E que, no seu caso, desaguara neste livro, uma mão-cheia de olhares cheios de sabedoria para a vida em seu redor e que vai deixando já nas mãos dos seus netos, para que o eterno ciclo referido se vá cumprindo.  

Rogério Charraz voltou à liça, por descaminho meu, mas que colheu aplauso antecipado da audiência…

… e, se possível ou necessário fosse, mais convencidos nos deixou!

Eu e Manuel Veiga inaugurámos a parte da sessão dedicada a quem trouxe algo para partilhar, como foi o caso de… 

– David José Silva
– Francisco José Lampreia

– Ana Freitas

– Cápê

– Rosário Freitas

– João Baptista Coelho

– Sofia Barros

– Emília Azevedo

– Miguel Partidário

– A mais recente produção de Rogério CharrazA Chave

– Os Poemas Cativos, de Manuel Veiga

E o final, muito especial, de Rogério Charraz, em boa hora sugerido pela plateia.

Os nossos amigos entretiveram-se, então, com a distribuição de afectos e autógrafos.
E assim fomos. Enormes. Felizes. Entre gente que se quer entender e dar a entender, muito para além das minudências que nos caracterizam a todos… e que é fundamental que assim seja.
Fotografias de Lourdes Calmeiro