… e no entanto o dia é fundo e descabido
na imensidão abissal do despautério
mergulhando a contragosto no olvido
de bivalves tão expostos sem mistério
as portas que se abriram estão fechadas
o céu sempre azul está encoberto
e os homens em pantomimas desvairadas
já não sabem se são homem ou robertos
numa vida triste amorfa maltratada
– só estridências de charanga no coreto –
sem passarem nunca mais da cepa-torta
aceitando chamar branco a quanto é preto
só as nuvens lá vão elas sempre em volta
deste mundo que nos gira sobre um eixo
cavalgando o universo em rédea solta
em elipses cintilantes as mais belas
num deslumbre de fazer cair o queixo
por poeiras que nos chovem das estrelas
nada temos ou por certo ou garantido
para além do esbulho e da ganância
somos só este povo escafedido
da esperança que a vista nem alcança
e de quem ninguém fala nos jornais
por teimarmos serem também siderais
estes males que de fados nos consomem
e afinal todos nós vamos elípticos
feitos todos dessa massa que nos forma
e apesar de haver ratos que nos roem
dos que não nos matando muito moem
nos quadrantes mais diversos e políticos
sem ter regra sem ter lei e sem ter norma
viajamos também nós pelo espaço
uns dos outros à distância desse braço
que esbraceja na desarte que transtorna
neste mundo tão carente de reforma.
– Jorge Castro
excelente meu caro Jorge – como eu "invejo" a "opulência" da tua poesia.
forte abraço
Ah, meu caro Herético, quanto eu daria para se desvanecerem, isso sim, as razões da «opulência» que referes…
Grande abraço.