Quem, com o 25 de Abril de 1974, não sentiu libertar-se de uma opressão intensa no seu peito? Quem não cultiva desse Abril a liberdade de ser e de estar até então inexistente? A quem o devemos ou quanto dele incorporámos?

E quais os caminhos que Abril tomou? Onde está, hoje? Somos os mesmos? Melhores ou piores por e com Abril?
Eis algumas perguntas que podem conduzir-nos, no próximo dia 15 de Abril (uma terça-feira, excepcionalmente), pelas 21h30, a um convívio com Vasco Lourenço, personagem determinante no Abril que foi e no Abril que é, nas Noites com Poemas, na Biblioteca Municipal de Cascais – São Domingos de Rana (Bairro Massapés – Tires) . 
Na abertura da sessão contaremos com o grupo coral de Tires, Estrelas do Guadiana, que entoará quantos cânticos esta data memorável lhe suscite. Cante alentejano, é bom de ver, tão ardentemente cultivado por este grupo já bem nosso conhecido. 
Poemas por vós trazidos…? Pois espera-se que traga cada um Abril na lapela, lado a lado com um cravo e com a vontade de ser português aqui, como nos diz José Fanha, na certeza de que o futuro também está nas nossas mãos, quando com elas sabemos cultivar o presente. 
E sempre com a bandeira desfraldade do sonho, essa constante da vida, tão concreta e definida como outra coisa qualquer, de Gedeão e de Freire, recordando-nos inevitavelmente que o povo é quem mais ordena. Tão só porque, apesar de tudo estar sempre em mudança, sempre assim foi e sempre assim será, para quem tenha os olhos abertos para a Vida, muito para além da tão efémera espuma dos dias, em espiral que nos apraz percorrer. 
Abril é dar um passo em frente. Conto contigo?

Entretanto, para aguçar engenhos ou estimular vontades, aqui fica o meu contributo:

não
era nada, quase nada e era Abril
não era nada
quase nada
e era Abril
flor sem tempo entretanto
sempre urgente
que nos invade a alma toda de
repente
amorosa
airosa
mas febril
era um cravo ardente e a arma
em punho
era um olhar furtivo e tão
contido
que saiu na madrugada
destemido
a nossa mão erguida em
testemunho
era um ser sem ser que a
pátria era
era um ser sem querer de
estar à espera
era um andar pelas ruas
clandestino
de homem o olhar – de alma o menino
e houve um santo e uma senha
na alvorada
a erguerem-se numa só feitas
à estrada
as vontades de ser livre e
ser inteiro
a rasgarem entre o denso
nevoeiro
o alvor
a alegria
a liberdade
e mostraram ao país outra
verdade
não era nada
quase nada
e era Abril
e esse cravo no cano de uma
espingarda
era a voz que gritava em
vozes mil
deste povo que envergando a
verde farda
soube dar novas cores ao mês
de Abril.
– Jorge Castro
11 de Abril de 2014