Outros Poemas de Menagem nasceram, de parto natural e sem dor, em ambiente de afectos e convergência de sentires, em busca de alento e tentando contribuir, com tal nascimento, para que se desenvolvam outros paradigmas e enlaces, apesar do ar rarefeito em que vivemos.
Na Junta de Freguesia de Carcavelos e Parede, em 18 de Outubro de 2013, fundindo a 90ª sessão das Noites com Poemas com as Comemorações do Dia de Carcavelos, a noite foi festiva, alegre, emotiva, com alguns arrebatamentos, mesmo, e recheada de cumplicidades.

Isabel Martinho, presidente da Assembleia de Freguesia, abriu a sessão…

… logo seguida da intervenção da presidente da Junta de Freguesia, Zilda Costa da Silva, enquadrando a actividade não apenas com as comemorações do Dia da Freguesia mas, também, como exemplo do cunho cultural que tem sido e continuará a ser apanágio da acção desta instituição autárquica, no que ela representa de comunhão com a comunidade onde se integra.

Ana Paula Guimarães, a quem com toda a propriedade e muito justamente atribuo o cognome de madrinha de escrevinhações, partilhou com os presentes a sua viagem através do livro, com o poder comunicativo que tanto a caracteriza, com uma enganadora ligeireza plena de profundidade, que sempre me faz sentir melhor pessoa do que serei…

Pelo caminho, lá foi desafiando uns e outros para trazerem ao encontro o som de outras vozes, de outros enlaces, para que a diversidade funcione como elemento enriquecedor do convívio…

… como foi o caso de Lídia Fidalgo, do CRAMOL, ali «apanhada ao virar da esquina» e instada a cantar, para nosso deleite, mesmo que não quisesse…

Pela minha parte, cumpriu-me a apresentação do livro, suprindo também a ausência circunstancialmente inevitável da nossa amiga e editora, Fernanda Frazão, da Apenas Livros, irremediavelmente ocupada noutras lides, mas presente sempre… por muitas razões e mais uma. 

Como referi, então, estes Outros Poemas de Menagem estão, como se vê, repletos de gente, por dentro e por fora. Pessoas todas elas e nenhuma descartável, com quem tive ensejo, nalgum momento da minha vida, de me cruzar e que, por essa elementar ocorrência, moldaram as condições para que, também, eu fosse assim como sou.

Dir-me-ão que este é quase um lugar-comum. Será. Mas é a minha verdade.

Pessoas à maior parte das quais me ligam mais estáveis ou fugazes relações de amizade. E, por isso, eu tenho para mim que este livro é subversivo. Subversivo pelo que ele testemunha sobre este elementar e algo esquecido facto de que o homem é um animal social e que é na conjugação com os seus pares que ele cresce, melhora e se transcende.

Relembrando Manuel António Pina, assumamos, então, que «a amizade é talvez a forma mais radical de resistência».

A sala, pequena para tanta afluência, deixa-me inevitavelmente naquele limbo entre o envaidecido e orgulhoso, onde tão bem nos sabe estar. 
Convém, entretanto, destacar aqui que a Junta de Freguesia de Carcavelos-Parede fez questão de oferecer este livro, situação a que contrapus a proposta aos assistentes que, assim sendo, em troca da oferta, deixassem um donativo a uma instituição da terra, no caso a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Carcavelos e São Domingos de Rana. 
A sugestão foi bem aceite e de resultado… simpático. Enfim, os amigos são para as ocasiões, lá se diz.
   

Coube-me, de seguida, a apresentação de quem se dispôs a acompanhar-me com outras artes, neste lançamento:

Primeiro, o grupo de jograis Oeiras Verde, que já integrei, e que nos presenteou com uma mão-cheia de poemas onde foi dado a primado a uma selecção de textos bem-humorados e que colheram forte e espontâneo aplauso da sala.

Como surpresa mais «violenta» para o público – porque aqui eu devo interpretar grande parte do poema cantando… – e com o auxílio (e perdão!) de Gedeão, relembrámos a parceria que tivemos através da Silvininha, que sempre foi prato forte deste grupo. 

Com Ana Patacho, Filomena Vale, Francisca Patrício, Ilda Ferreira, Magnólia Filipe e Luzia Pinto da Costa, só posso evocar, pois, a bem-aventurança de me encontrar, assim, entre mulheres!

De seguida, tivemos o trio La Farse Manouche – formado por Alcides Miranda (guitarra), Nuno Serra (guitarra) e Nuno Fernandes (contrabaixo), ao conhecimento do qual cheguei – e em boa hora – através do Nuno Serra e a quem ouço uma e outra vez sem me cansar de ouvir e sempre expectante quanto à próxima audição. Gipsy jazz, uma expressão musical que tem o condão de me deixar alegre, feliz e inspirado. Deles se aguarda, também, com ansiedade um cd, para conforto presente e memória futura. 

Procurem-nos no YouTubeaqui e aqui – ou no Facebook e  terão uma aproximação ao excelente momento de muito boa música que nos proporcionaram, culminando este serão que se revelou tão bem concorrido.

Um Carcavelos de honra, que caiu às mil maravilhas no goto de todos… Havendo ainda muitos para quem esta foi uma estreia no apaladar deste néctar.

É, então, em dias cinzentos e tão estranhos ao ser humano como os que vamos percorrendo, com responsabilidades partilhadas mas tão insondáveis… que talvez resida a superior arte de procurarmos dar as mãos – a que podemos chamar solidariedade, altruísmo, comunhão ou cumplicidade – e que nela resida uma porta de salvação para a Humanidade que somos.

Sei, entretanto, que é nestes caminhos da arte do encontro, de que Vinícius falava, onde mais facilmente deparo com as estradas que quero percorrer. Nos bons, nos menos bons e nos maus momentos, um amigo, a sua palavra ou a mera companhia podem gravar-nos, sem darmos sequer por isso, uma marca indelével que nos acompanhará pela vida fora.

Fotografias e vídeos de Lourdes Calmeiro