Uma livraria é uma barriga grávida de saberes. E o acto de nascimento é, nela, um processo contínuo – algo assim como a abelha-mãe numa colmeia, de fecundidade infinita.

Neste tempo em que desaparecem as abelhas, ver fenecer (às nossas mãos…?) assim, tristemente, mais uma colmeia, faz-nos pensar que muito em breve não será possível verificar-se a polinização tão necessária e imperiosa a que as ideias sejam fecundas.

Façamos, então, o que está nas nossas mãos para contrariar este estado de coisas!



—x—
Da crónica O Ribatejo, de 25 de Julho de 2013, de Daniel Abrunheiro, respigo, com a devida vénia, do episódio Malhar no Linho, o seguinte excerto, para o qual recomendo leitura atenta, a bem de uma salutar lubrificação da memória:
(…)A
visão é mais-que-perfeita como um pretérito longe feito perto hoje, não todavia suficiente para me fazer
esquecer, ante todo este espúrio e estupefaciente carnaval de crocodilas
lágrimas antecipadas pró-pré-morte de Nelson Mandela, que em 1987 (há meros 26
anos, portanto), reunida a Assembleia Geral das Nações (alegadamente) Unidas,
ia a moção plenária um apelo à libertação incondicional desse gigante
sul-africano. Votaram a favor 129 países. Três votaram contra: os EUA, então
tragicomicamente rendidos ao Reagan, a Grã-Bretanha, da Thatcher, e um tal
Portugal dum tal… Cavaco
. (o sublinhado é meu)
Nem
quem viola é preso, nem quem é violado esquece. A nossa amnésia
carneirinho-multitudinária persiste em procrastinar (isto é, adiar; isto é,
odiar) o evidente. E o evidente é a quinta de porcos do velho Orwell, que a
tudo e todos, filósofos de Café de bairro incluídos, pretende terr’arrasar.(…)(fim da citação)

  

Para cúmulo da nossa miséria, ainda nos sobra esta cáfila que, através de um alinhamento cobarde e deliberadamente acrítico, nos envergonha no concerto do mundo! Nem eu já me lembrava desta…!