(Adiro à greve do dia 14 de Novembro, sim senhores. Porquê? Ora, ainda é preciso dizê-lo…? )

aprouvera que me fosse mais fagueiro
este tempo só de impostos e ameaças
que de tudo preservasse o costumeiro
e vivesse sem me cuidar de pirraças

que bastasse p’ra ter luz um candeeiro
que de protecção sobrassem as vidraças
e por dar cá uma palha ser inteiro
peito aberto aos ardores das arruaças

porque roubam tudo ao pobre esfomeado
tão esganado à míngua de um seco pão
quando a alguns sobra pão por todo o lado

e assim fazem de mim o refilão
truculento ferrabrás e desbocado
não calando a aleivosia do ladrão

nem ao rico lhe desculpo o exagero
de viver só na riqueza… e das misérias
ao colher benefício ao desespero

de quem vive sem viver e sem dar férias
à vontade de comer e sem tempero
só lhe darem p’ra comer algumas lérias

e é neste entretém feito fumaça
que medramos num talvez-não adverso
sem passarmos do cuidado que esvoaça
fracamente na candura de algum verso

e se a cor ou o ser nos é diverso
que se apure que o Sol nasce p’ra quem passa
e se é nosso o mar todo e o universo
fomos todos moldados na mesma massa.

– soneto e seu simétrico da autoria de Jorge Castro