As homenagens feitas aos sobrevivos
são sempre trabalhosas,
delicadas, mais elaboradas e cheias de atropelos,
do que se o sujeito for passado mais do que perfeito,
e tudo por andarmos todos nós pelos cabelos.

Quem homenageia quem
sem saber o dia que lá vem?

E se todos escolhermos o mesmo poema?
E se cuidarmos, até, que não há tema
ou quem dirá sequer que vale a pena
homenagem-por-dá-cá-alguma-aragem…

E o outro somos nós naquele espelho
para onde olhamos e dizemos:
«- Caramba, este gajo está mesmo a ficar velho…»
e, logo mais, sorrimos e dizemos
que uma ruga após outra vale a pena
e que, se assim não for, o teorema
nos diria que um mais um
não dá em nada.

Ficará depois de nós a gargalhada
– quem sabe? -,
o gume de uma espada,
algum precalço,
o salto,
o abraço
ou mesmo um beco,
e nós todos a olharmos para o boneco,
na metáfora de uma vida em auto-estrada
onde somos pouco mais do que um poema.

Só por tal,
cá por mim,
a homenagem
vem de quando um homem e outro interagem,
sendo que esse homem pode ser também uma mulher
– o que em nós há-de sempre acontecer…

– Jorge Castro