– Como ficou claro na «apresentação em forma de poema» a que me propus para esta exposição conjunta de Isabel Anselmo e de Margarida Costa, na Livraria-Galeria Municipal Verney, em Oeiras, se é certo que a obra sempre transcende o seu autor e passa, de algum modo, a fazer parte do outro, o espectador, mais ou menos atento, que a encorpora e assim lhe transmite nova dimensão, não é menos certo que todos somos aquilo que fazemos. 
E, assim sendo, a obra existe materializada por um sedimento ou lastro de referências que cada um assume, de modo mais ou menos consciente, e que sói chamar-se a «experiência da vida».

Assim me apraz, pois, olhar para a obra artística, numa relação directa entre ela (a obra) e eu, mas a que não consigo iludir o peso específico que o autor lhe confere.

Isabel Anselmo (Pintura)

À Isabel Anselmo 
olho e pinto a criação 
que em meu redor me incentiva 
fico no centro do mundo 
abarcando a perspectiva 
e em meu redor a flor 
o mar azul sem ter fundo 
alguma réstia de dor 
insistem para que eu viva 
e de tão intenso o grito 
transmutado em minha tela 
a cor sai de mim vermelha 
azul verde e amarela 
espalhada pelas mãos 
em tons que brotam do peito 
qual pretexto colorido 
de algum protesto a meu jeito. 

– Jorge Castro

                                          

Margarida Costa (Cerâmica)

À Margarida Costa 
a mão que enforma o barro 
sábia do sarro da vida 
de quanto se maravilha 
traça um traço 
fino 
fino 
tão fino como uma linha 
molda a cara 
o peito 
as mãos 
um olhar que quase brilha 
e grita ao barro enformado 
«- levanta-te e caminha!» 

– Jorge Castro


Os três pisos da Verney estiveram, desde o  primeiro minuto, bem preenchidos de uma assistência interessada e opinativa.

– O grupo que teve a cargo a apresentação da exposição, anunciado pelo Professor Manuel Machado

 – A senhora vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Oeiras, Elisabete Oliveira, iniciou a apresentação do evento.

Por mim, coube-me tentar moldar o barro e enchê-lo das cores que as palavras nos possam trazer, ensaiando uma possível abordagem às autoras em forma de poema, onde tintas e argilas se foram misturando, dando alento e justificativo à subjectividade do apresentador… 

A exposição mantém-se até 28 de Julho. Para quem esteja por perto, sugiro a sua visita. Não darão o tempo por mal empregue.

Fotografias de Lourdes Calmeiro