ah
a Primavera
senhores
vou-me asinha
peregrino
à floresta de amores
sem destino
sem ter tino
duendes
fadas
flores
lascívias
doces quebrantos
e um céu
pelo arvoredo
mais azul que os agapantos

saltam faunos
saltam ninfas
deidades mil
ansiedades
sobra o verde
sobre o medo
cheio de verdes encantos
borboletas esvoaçam
entre flores que entrelaçam
a maciez das colinas
e águas rumorejantes
refrescam breves recantos
nos instantes de um olhar
como o pulsar desta mata
que palpita e se desata
se eu nela me embrenhar
soltam-se as aves dos ninhos
vozes de fazer caminhos
estevas e matagais

brilha a vida em cada alfobre
que sobre a vida nos sobre
na senda de viver mais
vive a vida a Primavera
contra a amargura dos ais

e
senhores
está ali à espera
da montanha à serrania
da serrania à planura
no sentir cheiro da terra
em mãos cheias da aventura
que vem do alto da serra
ao madrugar orvalhada
cresce a crescer cada dia
cresce além da desmesura
esta vontade de vida
seja por tudo ou por nada.

– poema de Jorge Castro