Estava eu, para ali, muito em-mim-mesmado, colhendo o solzinho de fim-de tarde temperado a brisa, de ombro na ombreira na janela da sacada, eis senão quando um passarito palerma, com mais «canudos» do que plumas, se desmorona da minha pequena árvore das ameixas e vem aterrar-me aos pés.
Interessa apurar que vai para três anos que uma forquilha jeitosa daquela árvore tem servido para edificações de ninhos vários.
Ofegâncias de primeiro voo, sustos do salto da minha gata, que nem reparou que tinha – felizmente – um vidro entre si e o desemplumado e logo ali deu livre curso aos seus primários instintos, com tanta ânsia que desapercebeu o obstáculo transparente.
Dei por ele pintassilguito, que isto de meninices no campo me trouxe destas acutilâncias de saberes.
Uma leve, muito leve folha de jornal serviu, sem agitações desnecessárias e espaventosas, para lhe impedir fugas desordenadas, porventura ou por desventura para sítios de maiores e mais reais perigos.
Agachado, tacteei por baixo das notícias e dos anúncios, até dar com o corpito piador e aflito, a fim de o repor na árvore de onde a ansiedade de voar e alguma rajada de vento o fizeram cair, que ali nem havia ainda matéria-prima para voos. Só vontade.
E, de súbito, o piar aflito, a angústia esvoaçante de duas pequenezas aladas, volteando sobre mim, roçando-me o corpo. Eles, os pais pintassilgos, sempre tão tímidos e discretos, tão ciosos do petiz que, na presunção de malvadez daquele gigantone que eu era, me cercaram com o ataque impossível que lhes salvasse a descendência.
Já tinha ouvido falar. Já assisti, pessoalmente, ao envenenamento dos filhos encarcerados por parte dos pais esvoaçantes e aflitos. Mas nunca chegara a assistir a tais ímpetos de valentia, de peito feito à luta ainda que sem credível esperança de sucesso e tão avessa à sua suposta natureza arisca e fugidia.
Até agora, quedo-me estupefacto e reflexivo…
O aprendiz aventureiro:
– A excelente progenitura, em cobertura aérea: