Leio, na Visão de hoje (pág. 96 e seguintes), que «o Ministério da Educação estuda a hipótese de, logo no 1º Ciclo, boa parte da matéria ser dada em inglês» (fim de citação). Isso mesmo: leccionar parte substantiva dos programas lectivos em inglês. No ensino público, entenda-se!
Qualquer coisa, dizem, de idêntico ao que já se faz aqui ao lado, em Espanha, com um «sucesso» extraordinário. Estas comparações idiotas têm invariavelmente o condão de mexerem muito comigo…
Se isto não é um descarado expediente para, entoando loas de «modernidade», se promover a mais infame massificação global, com inevitável perda progressiva de peso desse pilar fundamental e determinante de uma identidade cultural como é a língua que falamos, até à sua óbvia extinção, então é o quê?
O novo-riquismo balofo, boçal, subserviente, imbecil e imbecilizante, que espreita por detrás de uma abencerragem deste quilate mereceria, porventura, que os seus mentores – se eles existem, que estas coisas, por vezes, não passam de fogos-fátuos para apurar a reacção ou falta dela do povão – fossem rotulados de traidores à pátria e tratados como tal. Assim mesmo, sem mais, que estas coisas tendem a despertar-me o radicalismo bruto e abrupto.
Num país que se distingue pela facilidade em assumir o poliglotismo como algo que parece estar-nos na massa do sangue, depois e apesar dos tratos de polé que foram dados, nos programas do ensino, a todas as línguas que não fossem o inglês, esta proposta parece um absurdo imenso, desde logo por ser um atestado de incompetência passado a todos os docentes de línguas estrangeiras (especialmente o inglês), por Portugal sedeados.
Ou então, está tudo bem. Mas numa perspectiva de reciprocidade: abrimos uma dessas escolas, desde que haja uma repercussão idêntica, em absoluto, em Inglaterra ou nos Estados Unidos. Quando a escola de lá fechar, fecha, também, a de cá e vice-versa. Que tal? Mais democrático e saudavelmente globalizante, promovendo a diversidade e interculturalismo, não?
Porque, enquanto movimento unilateral, a canalhice e a subserviência cultural parecem-me óbvias. As negociatas menores (ou maiores) delas decorrentes, mais do que previsíveis. E aqui fica lavrado, então e desde já, o meu veemente repúdio.