Pois é, Manel, há assim encontros fortuitos na cidade que trazem em si essa arte maior de nos devolver o intemporal da vida. Aqui fica, à nossa, algo que – vá lá saber-se porquê – me suscitou a nossa conversa…


há essa margem esquerda
no rio que me percorre
quer eu queira
quer não queira
e me traz viva essa perda
ao saber que o Che nos morre
ou na campina enlutada
dourada de liberdade
jaz Catarina perdida
dando outra verdade à vida
de papoilas ponteada
longo olhar na imensidade
da invenção do amor
tão perdidos na cidade
Daniel traz-nos vontade
de sermos amor maior
Zeca depois num alento
num doce tom de acalanto
de levar a nossa voz
muito para além de nós
para além da voz do vento

e no viver sem destino
neste meu sonho me deito
deixo-te
filho
o meu hino
do rio de que sou feito

– poema de Jorge Castro