nada digo de meu
mas a voz ecoa-me no silêncio dos labirintos
coisas de nada
nexos esparsos na bruteza dos dias
onde a pele se nos muda
no atrito áspero dos caminhos
percorridos

nada digo de meu
mas a fronte lateja-me em cada palavra solta
ali
onde o vento fustiga
a carne viva das falésias
abismo que os meus pés pressentem
atraídos por poentes luminosos

nada digo de meu
mas fere-me esta vontade de gritar
que se rasga na garganta
em tom de fado
encenado por um actor impávido
num palco sem plateia
buscando uma deixa que alivie o olhar
já cego de tantos projectores

por fim
epitáfio

nada digo de meu

de resto
são só palavras o que tinha para vos deixar