Dia 4 de Outubro – Destino: Granja do Tedo. Tanto quanto se sabe, mais uma reminiscência do já referido cavaleiro D. Tedon.

A povoação, incrustada na serra e na verdura que a recobre, desvenda-nos os recantos encantados que, misteriosamente, vamos sabendo preservar, contra a voragem dos «progressos»…

… ainda que logo alguém nos recorde a quantas duras penas tal ocorre.

Entretanto, a visita trazia «água no bico».
Quem havia de saber (se ninguém no-lo contasse) que, lá por meados do século XIX, uma mulher, Maria Coroada de sua graça, encabeçou um original movimento que, com sede na Granja do Tedo, subverteu usos e costumes – decretando, nomeadamente, o fim dos casamentos -, instaurando uma nova ordem da qual se perderam quase integralmente os ecos?

Deixo-vos uma pista possível: tentem encontrar o Turismo de Tabuaço aberto e perguntem sobre a matéria… Ou, então, mais simplesmente, tentem ouvir da boca dos próprios habitantes da Granja do Tedo que decidiram assumir esta herança, até através da atribuição de toponímia evocativa.


Parece que um velho alfarrábio, descoberto em Paris, nos conta a história. Alguns afortunados possuem uma cópia. Conto vir a ser um desses…

Enquanto isso, fica-nos a grandeza evocativa das pedras – uma vez mais e sempre, aquelas que resistem à voragem do tempo…

Como um velho pelourinho que, enraizado no meio de um povoado, parece pregar naquele chão a sua alma… Talvez que por isso haja por eles um especial cuidado.

A água de um fontanário regista a passagem de um olhar interessado que, vindo de longe, lhe sabe a proximidade…

De novo em viagem, repassámos por um dos flagelos mais recorrentes dos nossos dias: os incêndios. Do dramatismo de um fogo vivo à desolação dos campos ardidos, venha o Diabo e escolha.
Em qualquer caso, este parece ter passado a ser um companheiro constante e não desejado do viajante.
Castro Daire – Ermida – Igreja de Nossa Senhora da Conceição ou das Siglas: construída na segunda metade do século XII, pertencia, segundo parece, à Ordem Premonstratense de Santo Agostinho.
Ora aí está um bom motivo, se mais não houvera, para justificação destas viagens, aos olhos do viajante curioso: saber da existência de uma Ordem Premonstratense…
Para além disso a inevitável curiosidade que decorre da profusão de assinaturas (siglas) que os canteiros espalharam por toda a edificação, a desafiar-nos a inspiração para solver tal atiitude ou o que terá presidido à sua confecção.
No exterior, dir-se-ia o explícito implícito, a agravar a charada que este monumento suscita…

No interior, de novo uma Senhora da Conceição que se apoia no mundo que uma cobra rodeia…

… nem faltando, nesta imagem, o transporte da maçã, numa sugestão que, a meu ver e no que ao meu parco saber respeita, carece de melhor e maior aprofundamento.

Pelo sim, pelo não, o conforto relativo de uma outra imagem que parece reconduzir os conceitos ao seu eixo normalizado.

Perante a originalidade das diversas sugestões e desafios que os – chamemos-lhes assim por facilidade de enquadramento – elementos decorativos suscitavam, as explicações ou interpretações de quem sabe mais sobre a matéria, a trazer literalmente mais luz ao assunto.

No exterior, como no interior, maiores as sombras do que as personagens, cenário que o Sol do fim da tarde propiciava.
E, uma outra vez, nos fica esta perplexidade perante uma grandiosidade e riqueza patrimonial, histórica, que não se pode medir e que não pode deixar de nos correr nas veias e ser matriz do nosso ADN mas que anda tão arredia da nossa cultura hodierna.
Para encerrar este capítulo de tão rico passeio, uma foto de família (incompleta), iluminada pelo fugidio pôr do sol que, pelas serranias, nos foge mais cedo e sem aviso, mas ainda a tempo de criar uma auréola, talvez ténue e fugaz, mas que confere, assim mesmo, diversa qualidade aos que se deixam beijar pela curiosidade e abraçar pelo saber.

Ah, é verdade! Hoje houve eleições. Eu fui votar, claro. Espero que também tenham ido. Hoje estivemos a escolher aqueles que estão mais próximos das coisas de que tenho andado a falar, partilhando convosco este Passeio das Mouras. Aqueles que ficam com a particular responsabilidade de fazer chegar, condignamente, estes testemunhos às gerações vindouras.

Esperemos que eles encontrem artes e saberes para que assim seja, pois, a cada passo dado, me fica mais arraigada essa certeza de que esta coisa da «portugalidade» ainda tem muito que se lhe desvende e muito mais, ainda, que dela se diga.