A modos que em homenagem a um autor galego de Banda Desenhada que eu aprecio sobremaneira, o Miguelanxo Prado, ocorreu-me assim nomear esta croniqueta.
Entre um Dias Loureiro de quem se esperou cuidadosamente que deixasse de ser conselheiro de estado para o constituir arguido – ah, este temor reverencial pelas santas instituições…! – e que, de tudo, nada sabia, num estado de pureza original que nem a Virgem concebendo sem pecado, até a um Manuel Pinho, literalmente, nos cornos do mundo, em chicuelina de fino recorte na Assembleia da República e que fará, seguramente, escola, já que os bons exemplos do alto vêm, passando pela saga comercialona, americanóide e muito vista do Michael Jackson em agruras de endeusamento post-mortem – lembram-se do Elvis Presley, lá pelos quarenta e muitos anos, gordo, fanhoso, alcoolizado e tal, guindado, após a morte, a uma espécie de segunda edição de Jesus Cristo, com procissões, peregrinações e dólares aos milhões? – e rematando, enfim, na trampolinice das eleições do Benfica, onde já não se sabe da lei nem do roque nem, na verdade, isso parece incomodar quem quer que seja, tudo é de molde a guindar-nos a um supremo limiar de espiritualidade…
Pelo caminho – que até me esquecia, neste turbilhão de desimportâncias! -, António Costa grita, da janela da Câmara de Lisboa, que o ministro Mário Lino é um marcha-atrás atroz todos os dias e que, muito recentemente, até irradiou a Câmara da administração do Metro. PS versus PS por calendário eleitoral ou legítima rota de colisão de sensibilidades?

Insuspeitas referências de eminentes sumidades de ontem, estão, hoje, a contas com a Justiça que, velhota, pobre e entrevada, lá vai esperando que o tempo passe por ela e por nós todos, até que o crime compense e a voz nos doa.

Ronaldo origina transferências por verbas que, se são escandalosamente imorais em qualquer momento das nossas vidinhas, se tornam insultuosamente criminosas na propalada crise que nos sufoca e contribui para estender a fome a mais algumas dezenas ou centenas de milhões. O clube que entra com o pilim tem dívidas de incontáveis milhões – de outro tipo, claro -, mas isso nem é digno de referência… (- Chiça, que velhos do Restelo, sempre no bota abaixo do «progresso» futebolístico!).

Pouco, muito pouco, na verdade, nos sobra para permitir uma sanidade mental em níveis de razoabilidade e sustentabilidade, que é um conceito muito acarinhado, nos dias que correm.

Felizmente, ao nível interno, não se prevê nova maioria absoluta de Sócrates, caso contrário, lá para 2013, já deveria haver, pelo menos, umas sete ou oito auto-estradas paralelas a ligar Lisboa ao Porto (uma passando primeiro por Faro, outra primeiro por Madrid, uma terceira primeiro por Bragança e outra, ainda, primeiro por Vigo). Por cima, aviões, muitos, da Portela, de Alcochete e – quem sabe? – por baixo a linha de metropolitano que também uniria Porto e Lisboa e Madrid e o mundo todo!

Talvez os cornos do Manuel Pinho – salvo seja! – sejam, afinal, metáfora premonitória. Com tanto engano no ar, como não andarmos nós todos enfeitados?…