Inverno e fim de tarde – acrílico sobre tela, de Jorge Castro

De invernoso dia, de claríssima luminosidade ao fim da tarde, da agressão das vagas e de um céu de escultura…

Do privilégio de se poder usufruir de tudo isso.

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Entretanto, estamos em Abril. O dia 25 está aí… Não é a primeira vez que refiro, neste espaço, uma canção e um cantor que me caíram no goto, aqui há uns anos atrás: Papa, Cuéntame Otra Vez, de Ismael Serrano.
Apanhei-lhe o rasto, no You Tube. Aqui vo-lo deixo, a propósito de Abril.
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Tive um dia o prazer e o privlégio de dizer alguns poemas de minha autoria acompanhado ao piano por um excelente pianista, João Balula Cid. Foi em São João da Madeira, tendo por companheiros de jornada o José Fanha, o Carlos Mendes, a Lena d’Água, o Pedro Laranjeira…
Impressionou-me, em Balula Cid, a bonomia e a disponibilidade inteira de quem, com mais de 30 anos de carreira, se prontificou a enriquecer o meu desempenho, favorecendo-me com a sua enorme mestria e sensibilidade, em troca de nada mais do que uma noite bem passada, entre nós e o numeroso público presente… com entradas gratuitas.
Soube, agora, que João Balula Cid perdeu o emprego e, em busca da dignidade que em Portugal se perdia, rumou à Noruega, onde arranjou colocação numa fábrica de bacalhau. Nas horas vagas, toca e afina pianos, como secundárias actividades (ver aqui, aqui e aqui ).
Com toda a experiência musical de uma vida, trabalhava, nos últimos tempos, cinco horas por dia, em Portugal, tocando piano num restaurante, pelo que lhe pagavam € 30… e davam de jantar. Em números redondos, menos do que eu pago a uma senhora que vem cá a casa, ajudar a engomar a roupa.
Bem-aventurado País este que assim se dá ao luxo destes desperdícios.
À espera de outro Abril…
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A pedido do próprio – que não consegue entrar nos comentários – e de quem mais venha, com todo o gosto, um poema, a propósito, da autoria de Laime Latino Ferreira:
TELAS ( 3 )
FORTE
Forte
Forte
É o sentir para lá das ondas
É o que se apruma
Forte
No seu porte
É o tocar
Voar
Bater-se à sorte
De ir por todo o Mundo a cantar
Forte
É o teu querer
E o saber
É a errância forte
Do não ter
É lançares-te assim
Nesse teu sim
É ires para lá do Mar
Do Norte enfim
É toque de magia
Onde se fia
A tua
Vontade minha
Que enquina
A mesquinhez
Que tenta aos meus porquês
Sitiar
Na vã glória de mandar
Forte
Como tu
Eu serei mais
Ao ver-te resistir
Sem desistir
Na afinação
Serei tudo e teus ais
Tudo verei e esses teus portais
Forte
Te erguerás como os cardais
Terrenos que se picam são frontais
Libelos
Que incomodam e são tais
Que aos lamentos
Tristes
E se insistes
Depressa te erguerão mais do que os ventos
Mais forte
Como eu
Virá a sorte
Por mais
Que não te queiram e aos teus sais
A essa tua pesca
Que inventa
Fiel
É o amigo como o mel
Que se impõe por tua boca sem ter fel

(Em Balula Cid, a todos os artistas que se reinventam )

Jaime Latino Ferreira

Estoril, 22 de Abril de 2009