O fim de semana com poemas começou cedo, aí por quinta-feira, nas Noites Com Poemas, com Ernesto Matos e com Pedro Miranda de Albuquerque, e com Cabo Verde por tema, pela Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana.

Os autores tiveram artes de nos convencer de quão africanos podemos sentir-nos, sem esforço e sem preconceito, mas tão só por algo indizível que nos habita, nos está entranhado, e que basta saber deixar fluir.

Depois, na sexta-feira, foi noite de Palavras Andarilhas e de transmissão de testemunho da Estafeta de Contos – que leva já onze anos de correrias -, sessão que teve lugar também na Biblioteca de São Domingos de Rana.
Helena Xavier, responsável pela Divisão das Bibliotecas, e Ana Clara Justino, vereadora da Cultura de Cascais, anunciaram o evento.

Sábado, pelas Caldas da Rainha, espreitando a inspiração lançada às paredes interiores de uma velha casa, habitada por estudantes da ESAD…


… onde a subversão do quotidiano pode dançar entre o tamanho de um sorriso que uma ironia desvenda…


… ou uma pieguice madura, assumida de corpo e alma.


Apurar, também, que os grafitis podem ter um sentido e um espaço, sem que tal signifique constrangimento.


Desvendar também o grito do nosso patrimonio arquitectónico maltratado, desbaratado, e tudo isso sem sentido…


E, depois, o sentido que um grupo de jovens transmitiu através de pinturas efémeras, que inundaram as Caldas da Rainha, em homenagem aos trabalhadores da Fábrica Bordalo Pinheiro, com primaveris andorinhas a tanto quererem anunciar outras Primaveras.

Haja quem os ouça, neste País onde a surdez impera.

O (meu) prato forte centrava-se, entretanto, na sessão do Dia Mundial da Poesia, com homenagens a Jorge de Sena e a Ary dos Santos, na Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha, e organização da Comunidade de Leitores.


Os Jograis Frei Cristóvão, ensaiados pela professora Isabel Sá Lopes, iniciaram a sessão.


A Comunidade de Leitores, na pessoa de Palmira Gaspar, apresenta o professor e escritor Fernando Martinho (à direita), que disserta, com saber e paixão, sobre a vida e a obra de Jorge de Sena.

A ambição do programa teve de ser gerida com cuidados que permitissem a participação de quantos o integravam…

Isabel Gouveia dá-nos testemunho, vivo e conclusivo, do que é uma vida dedicada à poesia…


… enquanto Isabel Sá Lopes nos inunda com a sua torrente tumultosa de lucidez.

Pedro Laranjeira assume com quantas palavras ditas se faz – ou refaz – um poema, onde o cunho interpretativo lhe empresta outra cor.

E Carlos Gaspar nos dá conta da sua descoberta do Corvo, de Edgar Allan Poe, traduzido por Fernando Pessoa.

Os Jograis do Canto Sénior emprestam outra noção de equipa e partilha ao exercício da poesia dita…

E Carlos Mascarenhas homenageia, em boa hora, o mestre Lagoa Henriques, contra ventos intempestivos de esquecimento irracional e irrazoável.

Pedro Laranjeira volta à liça, transmitindo-nos o seu conhecimento pessoal de Ary dos Santos e o deslumbramento da sua riqueza, ainda que conflituosa, enquanto ser humano e poeta. Conflito que nascia e crescia, antes de mais, dentro do prório Ary dos Santos…

António Ferreira brinda-nos com uma sequência coreografada de ioga, a pretexto da Estrela da Tarde, de Ary dos Santos, interpretada por Carlos do Carmo.

O exemplo do poeta e a força das suas palavras foi, claramente, inspirador!

No tempo dedicado à participação de elementos da assistência houve quem soubesse deslumbrar-nos com notáveis e saborosos exemplos de improviso.
Espera-se, como sempre, que o exemplo floresça e frutifique, e que provoque sementeiras de novos poemas.